quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Rejeição e campanhas negativas

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Há diferença entre ataque à honra e às idéias

Tal como antecipado ontem aqui, com base na pesquisa Vox Vopuli, a Folha de São Paulo também aponta hoje, com base no Datafolha, o crescimento da rejeição a Marina Silva. Comparando dados da série de seu próprio instituto, a Folha aponta um aumento na rejeição de Marina de 11%, há uma semana, para 18% na pesquisa divulgada ontem.  Um aumento de 63%. No Vox Populi, a rejeição a Marina é bem maior, de 40%, contra também elevados 42% de Dilma. Mas como o instituto ainda não produziu séries recentes sobre a sucessão, a comparação fica imprecisa.
A retração de Marina e o crescimento de Dilma na última pesquisa Datafolha,  que resultaram em maior vantagem da presidente no primeiro turno e em redução da vantagem de Marina no segundo,  tem relação inequívoca com as críticas da campanha dilmista.  Pesquisas qualitativas do PT já confirmaram isso, identificando quatro pontos que mais teriam minado os apoios a Marina: recuo na questão da homofobia, por pressão dos evangélicos, Banco Central Independente, menor ênfase no pré-sal e relação com os banqueiros.  Já se fala em violência e ferocidade dos ataques de Dilma. Aqui, há distinções a serem feitas.
Dilma, efetivamente, está fazendo uso de uma tática convencional nas disputas eleitorais, a campanha negativa contra o adversário, apontando seus pontos fracos para lhe tomar eleitores. Na prática, as campanhas negativas servem para ampliar a rejeição ao concorrente mas, em seu conteúdo, elas podem variar da baixaria ao questionamento racional com base nas propostas ou declarações do adversário. Vejamos o que Dilma tem dito de Marina, o que há de ataque à honra ou à pessoa,  e o que há de confronto de ideias e propostas.
1. Homofobia – Foi Marina que recuou do apoio à lei contra a homofobia, expresso em seu programa, depois do ultimato que lhe foi dado pelo pastor Malafaia. Mas Dilma nem explorou muito este ponto, pois também veste saia justa na relação com os evangélicos. Tem o apoio de uma parte deles e não vai se arriscar a perdê-lo enaltecendo o discurso LBGT.
2. Pré-sal – Foi o programa de Marina que dedicou uma ou duas linhas à exploração desta fonte energética. E foi o jornal O Globo, antes da campanha de Dilma, que apontou a pouca ênfase. A campanha petista surfou.
3.  BC Independente – Marina foi muito além de Aécio Neves, em matéria de aceno liberal-ortodoxo ao mercado, ao defender o Banco Central autônomo e independente. Não precisava ter se comprometido a este ponto. Elegendo-se, e acreditando mesmo neste caminho, poderia adotá-lo.  Facilitou, levou.
4. Apoio de Neca Setúbal e banqueiros - Está aí um ataque que lembra corda em casa de enforcada. Numa de suas respostas mais firmes aos ataques, Marina lembrou os lucros extraordinários que os bancos tiveram nos governos petistas, embora na era tucana tenham sido também generosamente socorridos com o Proer, que injetou mais de R$ 30 bilhões na reestruturação do setor bancário.  Este é o ataque menos coerente, digamos, da campanha dilmista. Mas parece ter surtido efeito.
5. Comparação com Collor/Jânio – Muita gente no PT não gostou do ataque, que na verdade, foi mal formulado. Tanto que não voltou a ser exibido.  Marina não guarda semelhança com um nem com outro, enquanto figura política. Se a campanha de Dilma quis dizer, corretamente, que governos sem maioria parlamentar costumam desaguar em crises e instabilidade politica, não o disse da melhor maneira. Tanto é que este ponto não foi identificado entre os que mais contribuíram para minar Marina.
Todos estes discursos representam campanha negativa mas vale-se a petista dos elementos fornecidos pela própria Marina.  Por isso, ela não tem conseguido rebatê-los com mais energia.   Até aqui,  não se pode falar em calúnia, difamação,   baixaria, ataques pessoais e assaques contra a honra. Nada parecido com o que já foi feito contra Lula, seja no caso Lurian e na tentativa de associar o PT ao sequestro de Abílio Diniz, em 1989. Ou mesmo na campanha do medo protagonizado por Regina Duarte em 2002.  Até aqui, os ataques estão dentro dos limites da virulência própria das disputas de poder.

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