terça-feira, 29 de abril de 2014

A Lei das Mídias e o cocô jogado na tela da Globo



Pois é, meus companheiros, como as coisas mudaram neste País. Há alguns anos e, principalmente, no decorrer das manifestações de junho do ano passado, os repórteres e o pessoal de apoio da Rede Globo de Televisão tiveram problemas sérios para cobrir os protestos que eles, equivocadamente, abraçaram como se deles participassem.
Ledo engano. Ao tempo em que os manifestantes protestavam contra "tudo o que está aí", ou seja, contra o Lula, a Dilma Rousseff e o PT, os repórteres da Globo foram, paulatinamente, compreendendo que o buraco era muito mais embaixo do que eles pensavam. Logo passaram a ser contestados nas ruas e a ouvir gritos e palavras de ordem contra a Globo.
Todavia, os repórteres e cinegrafistas continuavam a trilhar seus caminhos tortuosos com o objetivo de registrar manifestações contra o Governo trabalhista e suas principais lideranças. Os âncoras, comentaristas, colunistas, articulistas, editorialistas, os "especialistas" de prateleira e também, por que, não, os repórteres das Organizações(?) Globo se deleitavam com os eventos que questionavam o Governo Federal.
Afinal, era tudo o que seus patrões magnatas bilionários de imprensa esperavam há dez anos, pois somente as denúncias vazias, o caso do "mensalão", que até hoje não foi comprovado, os "escândalos" forjados, as acusações sem provas e o jornalismo meramente declaratório e em off não surtiam o efeito desejado, que era o de desconstruir, desqualificar e, consequentemente, evidenciar o sentimento e a sensação junto à população que o Brasil não presta e que o Governo comandado por governantes trabalhistas, de esquerda, eram incompetentes e corruptos.
Essas intenções mais do que percebidas por parte do público que não cai facilmente em histórias da carochinha evidenciavam os propósitos da burguesia nacional e seus porta-vozes exemplificados nos diferentes meios de comunicação privados controlados, basicamente, por seis famílias, que pensam que o Brasil de 210 milhões de habitantes, além de ser a sexta economia do mundo, é o quintal das casas delas. Mas não é!
Logo, rapidamente, os repórteres da Globo e seus chefes, espertos que são, notaram que muitos protestantes, de diversos grupos, passaram a rechaçar, com ênfase e até mesmo virulência, os profissionais de uma organização privada, que desde 1965 interfere na vida brasileira ao ponto de manipular pleitos eleitorais e favorecer os candidatos de suas conveniências políticas e econômicas.
Dois episódios chamaram a atenção. As sedes da Globo no Rio de Janeiro e São Paulo foram alvejadas com pedras e cocô. Isto mesmo: cocô! Evidentemente que tal Organização(?) não mostrou em seus diferentes veículos de comunicação a pichação. Cocô é dose, né, não? Por sua vez, os manifestantes começaram a ameaçar os jornalistas da "Aldeia Global", que, prontamente, deixaram de vestir as camisas da empresa.
Não deu resultado. Além de usarem roupas comuns, os repórteres passaram a cobrir a logomarca da Globo em seus microfones. Também não colou. Os profissionais, então, viram como solução cobrir os eventos de cima dos prédios. Contudo, quando a massa se deslocava os repórteres, cinegrafistas e fotógrafos perdiam os acontecimentos.
Os editores e diretores de redações sabedores desses problemas apelaram para os helicópteros. E aí, sim. As coberturas foram realizadas sem problemas, a não ser que colocar helicópteros no ar custa uma grana preta. E daí? O que interessa à Globo é fazer a cobertura e apoiar àqueles que a detestam por inúmeros motivos, inclusive o de pactuar, com a finalidade de se dar bem, com os generais da ditadura militar que durou 21 anos, além de tudo de terrível ou aterrador que se originou daquele regime draconiano.
Recentemente, durante manifestação na Favela da Maré, a repórter Bete Luchesi, da Globo, foi expulsa por manifestantes que protestavam por causa da morte de um morador, bem como envolvidos emocionalmente com a ocupação da Maré por parte das tropas federais e da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Em Copacabana, Luchesi foi duramente questionada por um casal, que atacou com palavras as "Organizações?" Globo (veja o vídeo).
Como se observa, a questão sobre os meios de comunicação — vale lembrar a recente aprovação e a efetivação do marco civil da internet no Brasil — tem de ser mais cedo ou mais tarde resolvida. O projeto de regulação das mídias apresentado há anos pelo ex-ministro da Secretaria de Comunicação do Governo Federal, Franklin Martins, encontra-se até hoje arquivado em algum armário ou gaveta do Ministério das Comunicações e da Casa Civil.
Não é mais possível empurrar com a barriga esse sério problema, responsável direto, queiram ou não, pela falta de regras e normas que regulem um setor da economia tão importante, como é o caso de um segmento bilionário dominado por seis famílias e seus sócios repetidores que atuam em todo o País. Hei de lembrar que rádios e televisões são concessões públicas pertencentes ao povo, que elege políticos e delega autoridade a eles para representá-los e defender seus interesses, que, indubitavelmente, não são os mesmos dos magnatas bilionários de mídias e seus feitores travestidos de jornalistas e comentaristas que igualmente lutam contra a democratização das diferentes mídias, porque agem conforme as ordens de seus patrões magnatas.
Hei de lembrar também que a Constituição de 1988 tem de ser cumprida, e um de seus aspectos previstos certamente é a regulação e a regulamentação dos meios de comunicação, que atuam livremente, sem dar quaisquer satisfações, inclusive para cometer crimes, e, se necessário, fazer política para derrubar governos eleitos ou desconstruir imagens de pessoas e instituições, porque não existe hoje no Brasil um marco regulatório para o setor de comunicação, como ocorre com todos os segmentos mais importantes da economia e da sociedade.
A falta de um marco que regule as mídias é nada mais e nada menos do que negligência do Governo Federal, do Congresso Nacional, do Ministério Público Federal, das universidades, com seus doutores, e das entidades e instituições civis, a exemplo da OAB, da Fenaj, da ABI, dos sindicatos de Jornalistas, em todas suas vertentes, como a dos radialistas, bem como a reação dos megaempresários midiáticos, que controlam as concessões públicas e, obviamente, as privadas.
Essa draconiana realidade lhes dá um poder desproporcional no Brasil, em relação a outros setores, fato este que não ocorre, por exemplo, nos países considerados desenvolvidos, pois todos implementaram seus marcos regulatórios e nem por isso a burguesia e a pequena burguesia brasileiras tecem críticas açodadas contra a regulação acontecida nessas nações. Talvez essa conduta ocorra porque o forte sentimento de vira-lata e baixa estima, característica tão comum às nossas classes dominantes e médias, o impeçam de atacar com palavras e gestos os países pelos quais suas mentes foram colonizadas.
Entretanto, o que importa é que a Constituição determina que o segmento das comunicações seja regulado e regulamentado. Ponto! Falta vontade política e até mesmo coragem. Todavia, o candidato eleito, entre outras coisas, tem de ter coragem, pois é uma exigência e também virtude de quem governa. Quem entra na chuva tem que se molhar. Ou então fique em casa ou vai fazer outra coisa, como, por exemplo, depois de trabalhar os anos devidos, requeira a aposentadoria.
A Casa Grande já manda bastante no País, mas não pode de forma alguma rasgar a Constituição, como seus inquilinos fizeram em 1964. No Brasil, o indivíduo é atacado pela imprensa e não tem como se defender. É uma verdadeira avalanche, como ocorre agora com o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, um dos candidatos favoritos para vencer as eleições ao Governo de São Paulo, dominado pelos tucanos do PSDB há 20 anos.
Padilha é do PT, e a imprensa se voltou ferozmente contra ele, pois, se a direita, a Casa Grande perder o poder em São Paulo, vai ser um "Deus nos acuda", porque até os mortos e os recém-nascidos sabem que, tal qual fez o prefeito petista, Fernando Haddad, as investigações sobre as "supostas" corrupções e falcatruas da tucanagem emplumada vão significar a hora da morte de uma corrente política conservadora que administrou o Governo Federal como se fosse caixeiro viajante, pois venderam o Brasil e o deixaram em petição de miséria, porque até emprego esses caras não criaram para o povo brasileiro.
Quando a repórter da Globo, Bete Luchesi, foi atacada com palavras de ordem e gritos, ficou claro que uma parte grande da população não aguenta mais as manipulações da mídia burguesa nacional e especialmente a Globo. Uma empresa privada deveria evitar se meter a fazer política da forma que faz.
A verdade é que a imprensa de direita e de negócios privados se tornou um partido político, e, como tal, também tem de entender que existe uma oposição vigorosa, enérgica, que não concorda com os rumos e a atuação de empresários e seus empregados de confiança, no que concerne ao vale-tudo para concretizar seus negócios e favorecer os interesses políticos e eleitorais de seus candidatos, geralmente conservadores e que já demonstraram no passado não ter quaisquer compromissos com o Brasil e com o povo brasileiro.
Os acontecimentos contra a Bete Luchesi representam a falta de regulação do setor de mídias, bem como significam o inconformismo de milhões de brasileiros que não votam nos candidatos da imprensa corporativa, que, historicamente, trabalha contra o Brasil, pois a favor de interesses empresariais e de governos estrangeiros. O cocô jogado na Globo durante as manifestações de junho é simbólico e endereçado, bem como as vaias aos profissionais dessa empresa que desde 1965 quer, equivocadamente, governar o Brasil. É isso aí.

DAVIS SENA FILHO

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