quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Recordar é viver:Coronel reforça acusação a Campos


por ROSÁLIA LIMA

Acusado, pela segunda vez, de favorecimento em contrato de prestação de serviços de vigilância ao Governo do Estado, o empresário Paulo Sérgio Macedo - sócio do grupo liderado pela empresa Nordeste Segurança de Valores e amigo e correligionário do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) - decidiu pronunciar-se "pela última vez", anteontem, em entrevista ao Jornal do Commercio. O argumento de defesa, em si, não é novo. Ele se diz vítima, primeiramente, de "extorsão", e depois, de "vingança", por não ter cedido a uma segunda tentativa de extorsão por parte do deputado federal e ex-secretário da Fazenda Eduardo Campos (PSB). A novidade agora é que o empresário lastreia-se em cópias de documentos e apresenta uma testemunha para o que afirma.

A testemunha é o superintendente de operações da Nordeste Segurança de Valores, o coronel PM da reserva, Antonio Menezes, um dos comandantes da Polícia Militar durante a terceira e última gestão (94/98) do ex-governador Miguel Arraes (PSB), da qual, Campos foi secretário da Fazenda. Antonio Menezes não só confirma ter sido procurado, por telefone, em julho de 98 pelo próprio Campos - teria pedido uma comissão de R$ 3 milhões para favorecer a Nordeste numa futura concorrência, cujo alvo era um contrato estimado em R$ 40,7 milhões/ano -, como apresenta notas fiscais de contas telefônicas comprovando ligações feitas para um número, segundo diz, indicado por Campos. As ligações teriam sido para o coronel Menezes dizer se a Nordeste concordava ou não com a negociata.

O número de telefone citado pelo coronel Menezes - que na segunda administração Arraes (87/90) foi ajudante de ordens do gabinete do governador - é o 969.4710. Trata-se de um celular funcional pertencente à Fundarpe, usado à época pelo deputado federal Eduardo Campos, pelo diretor de patrimônio histórico da fundação, Marcos Loreto, e pelo assessor da Secretaria de Trabalho e Ação Social, Gustavo Belo.

Com a experiência de quem administra uma empresa com 30 anos de mercado, dez filiais (oito Estados nordestinos, mais São Paulo e Rio de Janeiro), 10 mil funcionários, e projeção de faturar R$ 180 milhões este ano), o empresário Paulo Sérgio Macedo admite ter preferido pagar "comissões" a Campos - através de emissários -, entre agosto e novembro 96, ao invés de denunciá-lo.

"A Nordeste tinha um atrasado de mais ou menos R$ 3 milhões a receber. Ele (Campos) mandou Roberto Rego (ex-diretor do Detran no terceiro Governo Arraes) me procurar para dizer que só liberava o atrasado e pagava as parcelas vincendas até o fim de ano, se eu pagasse uma comissão de 20%. A minha rentabilidade nesse contrato não chegava a 10%. Eu tentei negociar porque não poderia pagar para trabalhar. Roberto se comprometeu a ser meu advogado junto a ele e defender que ficasse em 15%, mas ele não concordou. Foi uma negociação que durou uma manhã até cerca das 13h", assegura.

Segundo Macedo, como não houve forma de reduzir o percentual, ele negociou fazer o pagamento em parcelas, na medida que fossem sendo liberados os atrasados. "Mas exigi que os recibos fossem em bônus eleitorais. A única maneira de justificar a extorsão era exigir os recibos em bônus, já que estava no período eleitoral", conta, exibindo cópias de bônus, recibos e notas fiscais de terceiros, no total de R$ 609.163,00, equivalentes a 20.05% dos R$ 3.038.878,61 que a Nordeste tinha a receber por serviços prestados à Compesa, Fundarpe, Secretaria de Educação e Bandepe.

Apesar de detalhar como concordou em ser extorquido em 96, o empresário afirma ter-se recusado a pagar uma nova "comissão", em 98. A concorrência em questão era a de nº 04/98, para a realização de serviços de vigilância das 1.170 escolas estaduais, num contrato anual estimado em R$ 40,7 milhões. Para "vencer" a licitação, segundo Macedo, a Nordeste deveria pagar uma comissão de R$ 3 milhões a Eduardo Campos.


"Eu não poderia compactuar com essa fraude que ele (Campos) quis montar contra o Estado. E não só não concordei, como impedi que outros pagassem essa extorsão. Entrei na Justiça todas as vezes que ele tentou fazer a concorrência. A raiva dele é essa. Depois disso, a Nordeste deixou de receber pelo serviço que vinha prestando. Foi uma vingança", completa Paulo Sérgio Macedo.

Fonte:JC

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