sábado, 21 de dezembro de 2013

Corrupção é agenda falsa





Como tema de campanha eleitoral, este assunto não funciona: o eleitor não cai nesta armadilha

por Mauricio Dias — CartaCapital

Livre da disputa interna com José Serra, o senador Aécio Neves divulgou o documento que deverá nortear os rumos da candidatura dele à Presidência da República, pelo PSDB, em 2014. Entre o discurso e o texto atacou o PT, o adversário a ser superado. Sem perder o tom mineiro, garantiu que não vai partir para o vale-tudo. Foi cuidadoso, antes de tudo. Sabe que, em jogo sem regras, a disputa entre petistas e tucanos terminaria empatada. De forma muito árdua para ele principalmente.

PT e PSDB, não necessariamente nessa ordem, já dedicaram quase duas décadas de discursos acusatórios em torno do tema corrupção. Um problema sistêmico no Brasil que deve levar o cidadão a desconfiar de candidato empunhando o estandarte com a promessa de dar um fim a esse problema sem fim.

Ninguém é a favor da corrupção, todo mundo é contra, afirmaria o vetusto Conselheiro Acácio, essa velha encarnação ficcional da obviedade, criada por Eça de Queirós.

Combate à corrupção é agenda falsa. Dispensa comprometimento por ser dever de ofício de qualquer administrador por mais que a sociedade, como parece ser a brasileira, seja permissiva com ela. Também por isso, a teatralização política do julgamento no STF da Ação 470, popularizada como “mensalão”, em 2013, terá influência mínima, ou nenhuma, nas eleições de 2014.

O eleitor não cai nessa armadilha. Vota por interesse concreto. Pode errar no voto, mas acerta na identificação dos problemas que o afligem e assim constrói a agenda verdadeira, desprezada pela demagogia política. Não há debate sério e constante em torno dos problemas reais. Falta consistência e argumento à oposição para enfrentá-los. Um conforto para o governo.

Essa agenda é visível em todas as pesquisas. Ao longo de mais de 20 anos, trimestralmente, a Confederação Nacional da Indústria e o Ibope identificam isso. A mais recente, com pequenas variações porcentuais, repete as “áreas com pior desempenho” do governo Dilma (tabela). A saúde é a pior. Quem discordaria?

A corrupção, protagonista do noticiário da imprensa conservadora e, como tal, antigovernista, aparece em quinto lugar no ranking da pesquisa. No entanto, diante da pergunta se o mal é ligado diretamente ao governo federal, o porcentual
das respostas surpreende: é de zero por cento.

Segurança pública, violência e educação formam o trio de pior desempenho do governo. Em empate numérico com a educação aparece o combate às drogas.

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