quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Os parasitas da República

                        


Lula Miranda


Se considerarmos que aproximadamente 5% do PIB são desviados em corrupção, seriam mais de R$ 200 bilhões desviados anualmente. Recursos que deveriam ir para a saúde, educação, seguridade social e segurança pública!

Venho fazendo, há cerca de seis meses, um acompanhamento precário e empírico dos casos de corrupção no Brasil, nas esferas federal, estadual e municipal. Apenas para que tenhamos uma vaga noção do montante que é desviado do erário: cheguei à cifra de R$20 bilhões. Em apenas seis meses, e a partir de um acompanhamento e mapeamento – precário e irregular, reitero – sem qualquer metodologia científica.

Note que são apenas casos que foram flagrados pela PF, pelo MP ou Tribunais de Contas [um caso veio à tona por obra e graça de um jornalista e  blogueiro carioca] e que tiveram repercussão na mídia. Não considera, por óbvio, os que não foram detectados, denunciados e/ou divulgados na imprensa – que não tiveram, portanto, a devida publicidade e que continuam nas sombras do anonimato criminoso que acoberta todo tipo de malfeito.

Para aqueles que acham o número “chutado” ou “absurdo”, enumero apenas três desses casos que encabeçam minha lista, pois foram os últimos. Amanhã certamente já teremos mais um outro caso, outro último [mau] exemplo. Vamos aos três casos. Escândalo do “trensalão”: estimativa de cerca de R$ 425 milhões desviados; sonegação fiscal da Globo: cerca de R$700 milhões e o caso mais recente, o da gestão Serra/Kassab, na Secretaria de Finanças de SP: cerca de R$500 milhões.

Só aí já soma algo em torno de R$1,6 bi. Não devemos perder de vista, porém, que esses montantes desviados apurados se deram, de modo cumulativo, ao longo de anos.

Qual seria então um número mais próximo da realidade? Qual seria o montante de recursos públicos que são desviados no ralo da corrupção anualmente, seja para supostamente financiar o caixa 2 de partidos políticos ou para enriquecimento pessoal, pura e simplesmente? Um por cento do PIB? Esse seria um bom número?

Considerando um PIB de R$4,4 trilhões (valores de 2012), se aplicarmos o percentual de 1%, teríamos um desvio de R$44 bilhões/ano. Esse não lhe parece um número bastante modesto e razoável para trabalharmos? Não lhes parece “prudente” que partamos de um índice mínimo nessa nossa hipótese, embora saibamos que esse percentual de relação PIB/corrupção seja bem maior. Talvez 5%? Talvez... Mas por enquanto vamos trabalhar mesmo com 1% do PIB, sejamos modestos – ou, melhor dizendo, “otimistas”.

Para efeito de comparação e compreensão façamos um contraponto: qual o orçamento da União destinado, por exemplo, ao Bolsa Família?

O orçamento do Bolsa Família, que integra o plano Brasil Sem Miséria do governo federal, era de R$20 bilhões – ou, algo como 0,5 % do PIB. E atende a cerca de 14 milhões de famílias carentes em todo o Brasil. Por uma dessas estranhas coincidências, parei aquele meu levantamento precário do montante desviado em corrupção nessa cifra. Lembra-se?

Quantas famílias poderiam ser atendidas com esses, não R$20 bi, mas com os R$44 bilhões que se perdem no esgoto da corrupção (os tais 1% do PIB desviados da nossa premissa subestimada)? Em quanto se poderia aumentar o valor pago a cada família que recebe esse benefício? Quantas creches, hospitais, escolas, postos de saúde poderiam ser construídos? Em quanto os governos poderiam aumentar os salários dos servidores públicos?  – como professores e policiais, que ganham muito pouco, apenas para citar dois exemplos.

Se considerarmos que aproximadamente 5% do PIB são desviados em corrupção, seriam mais de R$ 200 bilhões desviados anualmente. Recursos que deveriam ir para a saúde, educação, seguridade social e segurança pública! Números que poderiam ser traduzidos em serviços públicos de melhor qualidade: mais ônibus, metrôs e trens; menos filas e falta de assistência nos hospitais públicos.

Mas esses números e essas digressões são apenas para que retomemos a discussão em torno desse tema importantíssimo; para que possamos nos armar, devidamente, para o combate dessa praga que parasita a República: a corrupção.

Como fazer esse combate?

Para não lhes cansar, paro por aqui.

Voltarei a esse tema brevemente. Para que possamos discutir formas de combate à corrupção, apresentando e sugerindo novos exemplos de governança lastreados na ética republicana e no bom uso dos recursos públicos escassos por definição.



N.A.: Esse artigo, lembro aos que acompanham os meus textos aqui no Brasil 247, faz parte de uma espécie de “trilogia” na qual pretendo abordar e  debater os principais problemas que afligem a República: corrupção, terceirização/privatização

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