sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A decência tem a palavra


João  Gomes 


Celso de Mello, até então reverenciado por quem não trata de casuísmos e interesses difusos como ministro já histórico, como irá escrever o seu nome na história, notadamente em face da prostituição público/política do debate?

Em França, conta Evandro Lins e Silva em sua obra imortal A Defesa tem a Palavra (aide, 3ª edição, 1991, pg. 33), que no debate de uma causa, Cesar Campinchi, atuando na acusação, invocou a opinião pública em seu favor. Na ocasião rebateu-o Vicent Moro Giaferri (o defensor):

"Maître Campinchi vos dizia a toda hora que a opinião pública estava sentada entre vós. Expulsai-a, essa intrusa. É ela que ao pé da cruz gritava: "Crucificai-o". Ela, com um gesto de mão, imolava o gladiador agonizante na arena. É ela que aplaudia aos autos da fé da Espanha, como ao suplício de Calas. É Ela enfim que desonrou a revolução francesa pelos massacres de setembro, quando a farândola ignóbil acompanhava a rainha ao pé do cadafalso. A opinião pública está entre vós, expulsai-a, essa intrusa... Sim, a opinião pública, esta prostituta, é quem segura o juiz pela manga".

Passados mais de dois séculos do evento, ontem, no Supremo, ouvi dois juízes debatendo: um dizia dever respeito a opinião pública; outro à sua consciência...

Lembrei-me, na hora, de Evandro. Lembrei-me, também de Vitor Nunes leal, e de outros ministros que foram cassados pelo regime de chumbo, por conta de deferirem ordens de Habeas Corpus em desagrado aos interesses do regime de exceção – aquele regime que, recentemente, um veículo de comunicação de conceituada família midiática assumiu ter auxiliado...

Evandro segue, até hoje, reverenciado como um dos maiores (inclusive deixou-nos o Técio para continuar sua belíssima história); Vitor Nunes leal deixou um legado tão magnífico que se pode dizer que ninguém menos do que o grandioso Sepúlveda Pertence foi seu dileto discípulo...

E Celso de Mello, até então reverenciado por quem não trata de casuísmos e interesses difusos como Ministro já histórico, como irá, efetivamente, escrever o seu nome na história, notadamente em face da prostituição público/política do debate?

Não sei e nem tenho a pretensão de sabê-lo. Abomino, entrementes, como cidadão e Advogado, o teatro consumitório que lhe preparou a banda política da Corte Suprema.

Rogo, todavia, que ele decida de conformidade com sua consciência, suposto que o mais famoso dos juízes que ouviu a opinião pública foi pôncio pilatos, que não deixou saudade nem o nome em bom destaque histórico sendo, sempre e somente, lembrado por ter se acovardado em face da opinião pública que, hoje, deve ser entendida enquanto opinião publicada.

Em tempo: pedirão desculpas, outra vez? Quando?


 *Advogado

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