quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Pântano político em SP e no Rio



São Paulo e Rio de Janeiro estão a ocupar espaços midiáticos dos mais variados. No Estado mais rico da Federação voltou à tona denúncia publicada em 2009 pela revista Carta Capital apresentando maracutaias envolvendo, por baixo, 30 bilhões de reais. E isso para não falar dos 10% das propinas proporcionadas por acordos debaixo do pano nas obras do metrô e empresas multinacionais.

Na primeira divulgação dos fatos não houve maiores repercussões, talvez pela proximidade das eleições, ou porque a mídia de mercado naquele momento tivesse mais facilidades de esconder fatos escabrosos, envolvendo gente graúda que reza por suas respectivas cartilhas, do que nos dias atuais onde as redes sociais demonstram cada vez mais poder multiplicador.

Em São Paulo, em suma, as denúncias crescem a cada dia e chegam até a obrigar o atual Governador Geraldo Alckmin, o ex-José Serra, e a assessoria do ex-Mario Covas a jurarem por todos os santos que não sabiam do que aconteceu ou que nada tinham a ver com o gangsterismo.

Já no Rio de Janeiro, que nos últimos tempos transformou-se num pântano político, até os jornalões e telejornalões foram obrigados a divulgar os acontecimentos relacionados com a instalação da CPI dos ônibus pela Câmara dos Vereadores. Ficou praticamente impossível silenciar e tomar partido logo de saída para o lado dos empresários.

No início, a bancada do PMDB e aliados, que compõem a maioria parlamentar do Prefeito Eduardo Paes tentaram, mas não conseguiram, impedir que a proposta do vereador Eliomar Coelho prosperasse. Como a pressão foi grande, a bancada do Prefeito acabou aceitando a CPI dos ônibus, mas de uma forma totalmente escamoteada, porque terá como presidente o vereador Chiquinho Brazão, acusado de vínculos com as milícias, e o relator Professor Uóston, dois vereadores que nem assinaram o requerimento apresentado por Eliomar, do PSOL.  Brazão chegou a colocar em dúvida a necessidade de uma CPI do gênero. Outros integrantes escolhidos, Jorginho do SOS (PMDB) e Renato Moura, do PTC (Partido Trabalhista Cristão) são do mesmo time que os mencionados.

O esforço para tornar a CPI pró forma foi muito grande, porque os políticos apoiadores tiveram de enfrentar pressões de manifestantes que não aceitam mais a continuidade do pântano político em que se transformou o Rio de Janeiro, seja em âmbito estadual ou municipal.

Se saísse mesmo uma CPI com o objetivo de apurar verdadeiramente as denúncias, os contrariados seriam todos aqueles políticos que devem favores aos empresários do setor de transportes coletivos. Brazão e Uóston tiveram até de sair escondidos da Câmara dos Vereadores e sob proteção da PM para evitar serem questionados por manifestantes indignados com a manobra mafiosa. Fugiram como se fossem meliantes.

Os indicados controladores da CPI, depois de alijarem o apresentador da proposta, o vereador Eliomar Coelho (PSOL), deram entrevistas em telejornalões garantindo que a CPI investigará as denúncias. Mentira! Não vai, porque se forem a fundo poderão atingir a eles mesmos, não escapando também o Prefeito Eduardo Paes.

E aí é que está o x do problema. Ou será que alguém acredita que a patota empresarial dos ônibus não financia candidatos? Se até nomeiam secretários de transportes para garantir um dos lados, que dirá o resto?

Na verdade, a luta para acabar de uma vez por todas com o pântano político carioca e fluminense não vai parar. A nível estadual, como diz o dito popular, Sérgio Cabral está com o Pezão na cova. Pretende deixar o governo em abril, para que o filho, Marco Antônio, se candidate, já que a legislação eleitoral impede postulante de parentes de chefes de executivo escolhidos pelo voto e exige a sua desincompatibilização do cargo seis meses antes do pleito.

Mas quem sabe, a persistirem as manifestações nas ruas, que pedem a antecipação da saída de Cabral e o seu desgaste, pode até ser que o governador deixe o posto o mais rápido possível. O seu impeachment pode ser difícil, mas não impossível, até porque quando o navio afunda, os ratos tentam de todas formas se livrar do afogamento.

Quem sabe, os deputados estaduais que hoje obedecem ordens de Cabral, tais quais os ratos nos navios afundando, procurem salvar a própria pele e detonem o governador de pezão na cova?


Fazem bem os jovens manifestantes, porque só através da pressão é que se consegue o atendimento das reivindicações. Os vereadores vinculados aos poderosos chefões dos ônibus e ao Prefeito não podem ficar em paz, como se o decidido a porta fechadas fosse o definitivo. Cabral recuou em várias questões em que se mostrava intransigente e agora aos poucos Paes está seguindo o mesmo caminho.

Mário Augusto JakobskindÉ correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.Direto da Redação

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