quarta-feira, 8 de maio de 2013

Palmério: jornais são "concorrentes comparsas"



Gisele Federicce _247 – Um ano e meio depois, a análise sobre a cobertura da mídia durante a eleição presidencial de 2010, feita pela dupla de jornalistas Palmério Dória e Mylton Severiano, acaba de ser recheada com novas histórias, mais detalhes e uma interpretação sobre o que está por vir no próximo ano. "Crime de Imprensa", lançado em outubro de 2011 em uma banca de jornal da Avenida Paulista, ganha uma versão digital – revista e ampliada – pela Livraria 247. "Para mim o lançamento é agora", afirma, em entrevista ao 247, Palmério Dória – autor também de "Honoráveis Bandidos", sobre a ascensão da família Sarney -, com o mesmo parceiro.


Paraense de Santarém, o escritor acrescenta que a nova versão, porém, não será impressa. "Não adianta encarar certas paradas. A internet está aí para isso. Vimos que a melhor saída era essa", explica, ao se lembrar que "a mídia não deu uma mísera nota" sobre o livro em 2011. "Teve lançamento em Floripa e em Belém, mas a verdade é que ele circulou num circuito restrito mesmo". Segundo o jornalista, o novo texto faz um balanço, sempre com bastante humor – "parece às vezes uma paródia" – de 2004 a 2010, "e pode ser lido como uma premiere do que vem aí".

Para Palmério Dória, a eleição que levou Dilma Rousseff à presidência da República no segundo turno, quando derrotou o tucano José Serra, foi como um "trem-fantasma", que a cada curva tinha um susto diferente, sempre promovido pela imprensa. O livro trata desses sustos, passados pela então candidata. Um exemplo é o fato de o jornal O Estado de S.Paulo, da família Mesquita, assumidamente apoiador da campanha de Serra, ter noticiado que o tucano estava em dois lugares no mesmo dia e no mesmo horário. "Eles vão repetir os mesmos erros nessa campanha de 2014. E já estão operando", afirmou, sobre os jornais.

Leia abaixo os principais trechos da conversa:


Qual a diferença dessa edição revista e ampliada?

Bom, a gente acrescentou muita coisa. Por exemplo, a gente acha que a grande mídia vai fazer tudo igual ao que fez em 2010, só que diferente: eles estão mais unidos e coesos. Estava faltando também um pouco mais de eleições passadas. Falamos de uma operação Teodoro, levada à cabo pela TV Globo, em 89, para evitar a chegada do [Leonel] Brizola ao segundo turno. Eu acho que eu não vi nada até agora sobre isso... e está nessa versão. Tem coisas interessantes que a gente acrescentou que foram acontecendo depois do lançamento, como o fato ocorrido no dia 9 de dezembro de 2011, quando se celebrava o Dia Internacional Contra a Corrupção. Nesse dia, o [jornalista] Amaury Ribeiro Junior lançou um livro bem adequado à data, A Privataria Tucana. Só que a imprensa passou mais de uma semana para tomar o conhecimento do livro, enquanto se ocupava em perseguir o [ministro] Fernando Pimentel. Além de recontar melhor coisinhas como no fato de nas eleições de 2002 o [candidato à presidência] José Serra estar em dois lugares ao mesmo tempo – em um estúdio em São Paulo e numa grande manifestação popular em Tocantins. O Estadão deu isso: era o mesmo horário e o mesmo dia. O livro está realmente muito mais redondo. Esses pequenos e grandes crimes da imprensa estão mais evidentes.

Por que a cobertura jornalística da campanha presidencial de 2010 chamou tanta atenção, a ponto de você decidir escrever um livro sobre o assunto?

Porque o que está na frente da gente, diante do nariz, normalmente as pessoas não fazem. Esse é o único livro sobre as eleições de 2010, segundo o [jornalista] Ricardo Kotscho. Agora, é muito importante porque eles (os jornais) vão repetir o mesmo esquema, agora maior, também revisto e ampliado, de 2010. Porque eles já fazem isso há décadas.

Quais são os principais fatos da eleição citados no livro?

Partimos do episódio da bolinha de papel [contra José Serra], e vamos para a frente. Falamos que a eleição de Dilma parecia um trem-fantasma: a cada curva era um susto. Então vamos falando desses sustos que a Dilma e o País passou, terminando com o Papa entrando na discussão sobre o aborto.

E vocês veem esses acontecimentos com humor...

Sempre. Parece às vezes uma paródia. Só dá para entender o que está acontecendo hoje em dia no Brasil pelo viés do humor, como dizem os intelectuais. Não tem outra forma.

O título é Crime de Imprensa. Que crime é esse?

São os pequenos e grandes golpes da mídia para derrubar os governos populares.

Você chama a imprensa brasileira de murdoquizada. Qual a relação da mídia no País com os veículos do magnata Rupert Murdoch, na Inglaterra?

A revista Veja grampeou o José Dirceu numa operação que depois se viu que até o Carlinhos Cachoeira estava envolvido. Um repórter entrou no hotel, botou câmeras e tudo o mais. São os métodos que o pessoal do Murdoch usou.

Sobre um fato que ocorreu após a publicação do livro... o que pensa sobre a relação de Carlinhos Cachoeira com a Veja?

De novo a piada prevalece. O Cachoeira na verdade era o publisher da Veja. Tudo vira piada porque você vê, como no caso do [julgamento do 'mensalão' pelo] STF, que a ausência de fatos é mais importante que os fatos. E a imprensa vai criando esses fatos. A Folha vai ter que ampliar o seu "Erramos" para o caderno inteiro, e tendo como editora a [colunista] Eliane Cantanhêde.

O que você espera exatamente para o ano que vem?

Uma maior coesão. O "Rolando ladeira abaixo de Mesquita", o "Rolando ladeira abaixo Frias", Civita... eles vão repetir os mesmos erros nessa campanha de 2014. E já estão operando. O meu parceiro, o Mylton Severiano, tem um livro sobre o Estadão – que também não tem a menor divulgação –, chamado "Nascidos Para Perder". Só que nascidos para perder não são mais só o Estadão, tenho a impressão de que esses jornalões se viciaram nisso, perder causa dependência.

E eles perderam também em 2010?

Ah, sim. O Estadão assumiu, foi o único que fez editorial, defendendo meio que envergonhado a candidatura Serra, chamado "O mal a evitar". O mal a evitar seria a Dilma, no caso. Agora todos, de maneira geral, entraram nessa fria.

O que os jornais estão fazendo agora que é similar a 2010?

Similar a 2010 é se constituir como partido político. A grande mídia, os jornalões, estão unidos e coesos. Então um repercute o outro, não existem mais nuances, não há fato novo, eles vão em bloco, como numa ação coordenada, são concorrentes comparsas. É claro que eles têm seus interesses próprios, mas existe uma cumplicidade.

No fundo, no fundo, o grande objetivo é evitar os avanços sociais. Uma discussão antiga. Por isso que o livro precisava falar de outras eleições, para ficar mais claro. Na prática, a gente faz um balanço de 2004 a 2010, mas evidente que fala mais da eleição que passou – e pode ser lido como uma premiere do que vem aí, que já está acontecendo.


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