quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Eleições Municipais: Chances e Possibilidades



Fernando Cartaxo de Arruda, sociólogo

fcartaxoarruda@gmail.com

A eleição municipal no Brasil, notadamente em Fortaleza, ganhará consistência e definição com a campanha de mídia e a intensificação dos gastos milionários das campanhas políticas. Apesar das magias eleitorais que serão expostas, o eleitor é sempre uma incógnita diante dos apelos e verdades que presenciarão. É um terreno melindroso e delicado o que será percorrido até a definição do voto na urna eletrônica. As pesquisas apontaram um quadro de tendências ainda em condições de inércia, que ganhará novos moldes com a dinâmica e o impacto das estratégias políticas e de marketing eleitoral.  Hoje, ainda temos um contingente enorme de indecisos, e um grupo significativo que definiram o seu voto, mas mesmo assim podem sofrer vacilações no percurso da campanha, podendo redirecionar suas escolhas políticas.

No caso específico de Fortaleza, essa maioria de indecisos e vacilantes definirá os candidatos que disputarão o segundo turno. A característica da atual campanha eleitoral é a da fragmentação de propostas, fruto da implosão dos acordos políticos que mantiveram o domínio da cena do poder sob o aparente manto da cordialidade. A ruptura da aliança PT e PSB e o voo solo do PC do B promoveram os estilhaços no cardápio eleitoral, bem como a fratura no campo da oposição tradicional, que desfez o acordo do PSDB com o DEM. Estas circunstâncias apontam a previsibilidade de um segundo turno.

Por outro lado, temos as candidaturas do PSOL e do PDT, que se insurgem como opções críticas as forças políticas estabelecidas. O PSOL com maior identidade de levantar a bandeira de inovação e mudança, pois o PDT ainda viveu na sombra pacífica com o PT e demarcou sua oposição política nos deslizes das ações do governo Cid Gomes. Essas candidaturas alternativas, no campo da esquerda e centro-esquerda, demonstram nos primeiros indicadores das pesquisas eleitorais, um estrato significativo de eleitores que buscam alternativas de esquerda tanto ao PT quanto ao PSB.  Ao mesmo tempo, temos um eleitor com perfil conservador e de direita, que também atuam no campo de oposição as forças de domínio, representado no DEM e nos resquícios tucanos da capital.

As estratégias eleitorais devem transitar dentro deste escopo, buscando mudar posturas e tendências detectadas nas primeiras amostras das pesquisas eleitorais e em pesquisas qualitativas que identificam como persuadir o eleitor de seus impulsos primitivos. Essa leitura minuciosa da realidade política e das tendências do comportamento do eleitor é a matéria-prima para os estrategistas das campanhas eleitorais. Devemos nos confrontar, nós eleitores, com moldagens de candidatos fabricadas nas oficinas da produção do desejo de consumo. Em outras palavras, candidatos que vestirão as roupas que os tornem agradáveis aos apetites, desejos e necessidades do eleitor. A arte é filtrar e racionalizar a cabeça do eleitor, identificando os campos e os espaços potenciais para turbinar a escalada de aceitação das urnas.

Devemos considerar que a manipulação dos desejos e escolhas não ultrapassam os limites de suportabilidade do senso comum do eleitor. Os eleitores do PSOL nunca migraram para opções políticas que firam os seus conceitos de análise e pervertam sua consciência política. As modificações de votos dessa natureza de consciência política são mais consistentes e não se sensibilizaram com quaisquer artimanhas do marketing político. O mesmo se deve dizer dos eleitores do PDT, que se posicionam como identidade própria e diferenciada dos arranjos hegemônicos existentes. Em geral, são eleitores que escolheram em quem não votar e procuram uma alternativa viável para satisfazer sua decisão por mudanças. Da mesma forma, são os votos da oposição de direita que anunciam vontades de trazer ao cenário de poder uma novidade política diferenciada das atuais configurações do poder posto.

O cenário político das eleições coloca uma matemática ainda imprecisa dos resultados. Os candidatos que despontaram nas prévias das pesquisas eleitorais são os que estiveram mais tempo expostos na memória do eleitor. O Moroni e o Inácio despontam, ainda na margem pequena do eleitorado que definiu os votos, por mera lembrança das sucessivas tentativas de pleitear a vontade do eleitor. O Roseno e Heitor já figuram como candidaturas potenciais e alternativas de escolha. Os candidatos da situação Elmano e Roberto Cláudio, por serem desconhecidos, figuram como personagens que ainda precisam anunciar os seus propósitos e sua força de persuasão eleitoral. Os outros candidatos são coadjuvantes sem embasamento para alçarem o pódio do poder.

A batalha será alcançar um patamar confortável para disputar o segundo turno, que deve variar entre 25 a 30 por cento do eleitorado. Uma margem que definirá a montagem das candidaturas para o segundo turno. Esse primeiro embate favorece o candidato da prefeita Luizianne Lins, mesmo que ainda não tenha obtido um índice eleitoral seguro. Sempre existirá uma confrontação entre as realizações da atual gestão e o que poderá melhorar e transformar. Por mais críticas que possam existir a atual gestão é razoável que existam um percentual compatível para pavimentar a candidatura de Elmano Freitas para o segundo turno. As realizações da Prefeitura não podem simplesmente ser desconsideradas e as populações beneficiadas pelas políticas públicas e sociais desenvolvidas pesaram esta realidade no momento da escolha do seu candidato. Assim como, não é desprezível a variável dos efeitos do apoio de Lula e da simpatia de Dilma a candidatura do PT, situação que tende a definir maiores probabilidades de vencer essa primeira etapa eleitoral. Não são sem razão os esforços do PSB em tentar neutralizar o impacto do apoio de Lula e evitar a participação de Dilma na disputa eleitoral. Sabem que o apoio dessa dupla pode significar a certeza do PT alcançar votos suficientes das camadas populares e setores médios da sociedade para se credenciar ao segundo turno. Essa é a chamada joia da coroa, aquela que todo mundo almeja. E só o Partido dos Trabalhadores pode possuir. Esse trunfo político deverá ser usado na fase eletrônica da campanha eleitoral e permite construir um cenário favorável para o crescimento sustentável da candidatura do PT.

É claro que tudo dependerá da evolução concreta da disputa eleitoral e do jogo de desqualificação e crítica que serão utilizados pelas demais candidaturas. Bem como a capacidade de adequação das estratégias eleitorais para os embates imprevisíveis na montagem e desmontagem das argumentações. Ainda não temos os elementos estratégicos que demarcarão o acirramento da disputa e nem indicadores confiáveis de quem despontará como prováveis candidatos com reais chances de vitória eleitoral. No momento é preciso observar como se comportará o eleitor diante das diferentes mensagens e propostas, pois ainda são insondáveis as armas que serão utilizadas e como serão absorvidas e processadas pelos diferentes andaimes da estrutura social e dos nichos de formação da opinião pública.

A candidatura do PSB é uma incógnita diante de um quadro multifacetado. O espaço da oposição tem sido ocupado pelo PSOL e PDT no terreno das classes médias esclarecidas; e pelo DEM em segmentos populares impactados pela violência urbana. A construção do seu discurso ainda precisa ser moldada em uma identidade identificável ao eleitor. A sua ascensão eleitoral dependerá muito da criatividade do seu marketing político e da comprovação da popularidade dos Ferreira Gomes na cidade de Fortaleza. A vantagem do candidato Roberto Cláudio é contar com o maior tempo na propaganda política e melhor infraestrutura financeira, condições privilegiadas para plasmar um caminho de ascensão eleitoral. Outro desafio será enfrentar as correntes do pensamento político que apontam os riscos da concentração de poder do PSB no Ceará, sinalizando uma nova hegemonia de grupo de domínio. Algo que desestabilizaria a saudável convivência de diferentes forças políticas na construção de processos democráticos e participativos.

Ainda resta constatar se os efeitos dessa fase eletrônica da campanha vão desnutrir as campanhas do Moroni e Inácio, cuja expectativa é alentada pelas campanhas do PT e PSB. A razão é simples: o Moroni parece ter um pequeno feudo de eleitores, sem demonstrar capacidade de expansão para uma disputa eleitoral majoritária; o Inácio conta com uma trajetória política reconhecida em diversos segmentos da sociedade, mas enfrenta problemas no escasso tempo na campanha eleitoral e dificuldades financeiras para manter e ampliar o fôlego de uma disputa eleitoral acirrada por uma diversidade de candidatos, além do isolamento das alianças partidárias.

Outra coisa que o horário eleitoral poderá revelar são as reais possibilidades de vingar uma candidatura alternativa, marcada pela irreverência do eleitor cearense, que muitas vezes torna possível o que a própria racionalidade das previsões e pesquisas não consegue detectar com precisão. Nesse caso, os efeitos surpresas seriam a candidatura do PSOL e do PDT, que trafegam como opções de inovação política no imaginário social. Mas pesa sobre essa possibilidade as dificuldades financeiras e o pequeno tempo de exposição de suas ideias nos canais abertos do rádio e televisão. Devemos comprovar até que ponto a democracia brasileira anda refém e limitada pelas grandes estruturas partidárias e os maciços investimentos financeiros.

É certo também que existe apatia política da sociedade frente aos permanentes fatos que desabonam a ética na política, que deve ser enfrentada com seriedade pelos atores políticos e sinalizada por compromissos com uma real e inadiável Reforma Política.

Agora é se debruçar sobre o espetáculo das produções midiáticas e dos seus efeitos reais na cabeça do eleitor.
 
Recebido por e-mail.

Um comentário:

Francy Granjeiro disse...

Essa foi de lascar...
Extra, extra, extra …..IMPERDIVEL……COM ÁUDIO

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http://saraiva13.blogspot.com.br/2012/08/isso-que-chamam-jornalismo.html

O JORNALISMO HIPÓCRITA DA TV REDE gROBO E DA MÍDIA