sábado, 28 de julho de 2012

Laços: O Capriles tucano e o Serra venezuelano



Faltam dois meses para as eleições venezuelanas de sete de outubro e o assunto 'Chávez' hibernou na pauta do dispositivo midiático demotucano. O eclipse de um tema sempre tratado com apaixonada lisura reflete uma ressaca precoce. Tudo indica que houve abuso na beberagem conservadora em brindes que se revelaram duplamente indigestos, a saber:

a) ao contrário do que anunciaram os colunistas isentos, Chávez não morreu em decorrência de um câncer que o levou seguidas vezes a Cuba, para cirurgias sucedidas de tratamento quimioterápico pesado; nesta 5ª feira, em um comício concorrido, em Caracas, o morimbundo dançou, cantou e pulou;

b) ancorada no jovem candidato Capriles, supostamente menos obtuso do que os golpistas que o precederam, a oposição não conseguiu construir uma agenda alternativa à do governo que condena e pretende substituir. Tanto que o seu bumbo mais sonoro é a promessa de um 'Hambre Cero' para 4 milhões de famílias.

Quem não se lembra de Serra? Em 6 de julho de 2010, no primeiro dia da campanha presidencial, em Curitiba, o candidato da sigla que acusa o Bolsa Família de bolsa-esmola, prometeu duplicar o programa de Lula. Na reta do desespero, em outubro, ele já oferecia 10% de reajuste aos aposentados, 13ª para o Bolsa Família e suculento aumento ao salário mínimo.Capriles segue a mesma receita que faz de Serra o paradigma do político cuja matéria-prima é a falsidade.

No compicio desta 5ª feira, depois de recordar os 59 anos do assalto ao quartel de la Moncada, em Cuba, e o aniversário da morte de Eva Peron, Chávez atacou o adversário ,' candidato da direita e da extrema direita', pontuou, 'que agora anda prometendo de tudo ao povo'. Sobre o 'Hambre Cero', o presidente venezuelano, que busca o 3º mandato, disparou dados contundentes de sua política social.

Desde 1998, 'a revolução bolivariana', disse, 'reduziu de 20% para 7% a fatia da população que vive na extrema pobreza; de quase 900 mil lares miseráveis existentes então', asseverou, 'conseguimos diminuir para um total de 400 mil'. Esta semana, o blog 'Diário do Centro do Mundo', do jornalista Paulo Nogueira, reforçou essa radiografia agregando números divulgados por um insuspeito instituto norte-americano, o CEPR, sediado em Washington.

No estudo intitulado “A Economia Venezuelana nos anos de Chávez”, o CEPR afirma: 1) quando Chávez assumiu o poder, em 1998, havia 1628 médicos para uma população de 23,4 milhões. Dez anos mais tarde, eram quase 20 000 médicos para uma população de 27 milhões; o índice de desemprego, que espetava uma taxa de 19%, caiu à metade.

O conservadorismo midiático poderá listar contrapontos verdadeiros a esses avanços, sendo a violência em Caracas um deles. É pertinente. Mas seria mais isento admitir que se trata de um bangue-bangue comum às metrópoles conflagradas dos países pobres e em desenvolvimento. Um fruto amargo de desequilíbrios decorrentes de interditos históricos, secularmente martelados por esses mesmos veículos, sendo um deles, a reforma agrária, e sua contrapartida atual, a reforma urbana.

A própria São Paulo tucana é um exemplo pedagógico dessa desordem deliberada, que o Apriles local promete resolver, caso retorne à prefeitura que já dirigiu sem ter deixado vestígios de credibilidade nessa direção. Paradoxo equivalente personificado pelo Serra venezuelano conta com a esférica indulgência da mídia local. A julgar pelas pesquisas, lá pelo menos, essa blindagem não parece suficiente para fraudar o discernimento da maioria da população. A ver.



Carta Maior

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