sábado, 7 de abril de 2012

Marconi Perillo é meu Richard Nixon


Marconi, como Nixon, tem a mania de perseguir jornalistas. Em diversas ocasiões e de diversas formas. Dos mais distantes aos mais íntimos

Não somente meu. Mas também de todo aquele que ainda conseguir atinar para a miséria que é aquela aparente retidão de caráter e de postura constantes. Um robozinho da perfeição. Perillo, governador de Goiás, está preso como na terrível maldição do eterno mesmo sorriso emoldurado pela inverdade das sensações. Nada o altera, ele nada sente e se o faz, pouco importa: ele sempre terá o mesmo sorriso para apresentar.


Assim como Richard Nixon, ex-presidente americano por dois mandatos, Perillo está congelado em uma perigosa e traiçoeira forma, que o aprisiona a ser o que é sem que ele mesmo pense na possibilidade de se transmutar em outra coisa. Sem pensar, sem saber, sem expressar qualquer outra reação que não aquele sorriso plastificado, Perillo está acelerarando um carro o máximo que puder em uma única estrada sem saber aonde ela vai lhe levar ou se levará a algum lugar. Com o tempo, o visual que se tem do passeio neste carro torna-se entediante e sem sentido.


Assim é a postura sempre escorreita, inverossímil no mundo das pessoas reais, de Marconi Perillo: entediante, sem sentido e sem qualquer direção.


Até então, ser assim é uma opção claramente pessoal e, num Estado livre, é mais que permitido, é até incentivado. Que se seja como se quiser ser. Mas o problema neste caso é que neste longo passeio que Perillo está dando sem saber para onde vai, ele está também nos levando. A população de Goiás segue no banco ao lado, sem acesso ao acelerador, ao freio e tampouco ao volante. A única coisa que se pode fazer é gritar por ajuda, tentar abaixar o vidro e espernear, na esperança de que alguém do lado de fora nos veja acenando e, olhando em nossos olhos de forma sincera e clara, perceba o nosso desespero.


Se você ouvir o grito longínquo e vir nossos olhos, sim, somos nós, povo de Goiás em instintivo desespero. Enquanto o motorista segue com ar perfeito, puro, constante. O mesmo sinistro e malévolo sorriso perfeitinho.


Marconi Perillo tem um bordão. De onde estou é possível imaginar que ao chegar perto dele eu possa sentir o cheiro de plástico recendendo de suas roupas caras, empedernidas, deveras elegantes. É como uma Barbie: perfeita, milimétrica, moldada na forma em que nada sai do lugar jamais. Pois Marconi para Goiás, assim como foi Nixon para a América dos anos 1970, era isto: este perigoso brinquedo perfeito cujo principal cuidado é não engolir e engasgar com as peças pequenas.


O bordão pessoal de Marconi Perillo é: “o meu forte é fazer amigos”. Há um fascismo preso neste discurso. Uma espécie da ditadura da bondade, da felicidade – novamente – plástica que somente reverbera a ausência. A ausência de realidade, de personalidade, de temperamento, de possibilidades de escolhas para agradar ou desagradar. Enfim, tudo o que há no ser humano e o torna apaixonadamente imperfeito e real, nele é só ausência. O filtro da vida o fez puro. Uma máquina de só agradar, só fazer amigos. Marconi não vai ao banheiro ou não solta gases e põe a culpa nos outros. Isto não é fazer amizades.


Marconi, como Nixon, tem a mania de perseguir jornalistas. Em diversas ocasiões e de diversas formas. Dos mais distantes aos mais íntimos – que trabalham para seu governo – seu forte é calar opiniões. Defende-se, é claro, como todo bom conservador de cristaleira, na ideia de que busca seus direitos através das vias jurídicas. Balela, Marconi não usa a Justiça, mas se impera por sobre ela através de seu poder e intimida, influencia e realiza outros verbetes facilmente imagináveis para conseguir as decisões que almeja.


Em diversas esferas, comparam Marconi Perillo a um ditador, um rei, um coronel. Nada disso. Marconi é simplesmente o espectro de tudo que ainda resiste num último fôlego do que há de mais atrasado, falso, vencido, enganoso, malévolo, decadente e egoísta na politica deste país. Ele é o último refúgio que ainda consegue se manter em pé e talvez por isto mesmo ainda tente fazer com que os outros creiam que ele é viável, jovial, bom e perfeito.


Mas quem chegar perto desta figura, com a forma correta de aspirar o ar à sua volta narina adentro, poderá sentir que o cheiro do velho e do antigo nele contidos estão misturados pela cobertura de uma grossa camada plástica que eterniza o mesmo sorriso, a mesma falsa perseverança e que só o permite dizer, como um boneco eletrônico, o mesmo bordão:


– O meu forte é fazer amigos.

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