sábado, 21 de maio de 2011

Sintonia com o governo

Vera Batista
Correio Braziliense - 21/05/2011
Novo presidente da vale vai atender aos pedidos oficiais: manter investimento, entrar em Belo Monte e ampliar atividade no setor siderúrgico

A entrada da Vale no consórcio da hidrelétrica de Belo Monte, em substituição ao Grupo Bertin, vai suprir a necessidade de energia da companhia, segundo afirmou o novo presidente da mineradora, Murilo Pinto de Oliveira Ferreira. "O pior cenário para Vale é não ter energia", justificou, ao garantir que, à medida que as oportunidades surjam, será preciso "ajustar os planos para ter ainda mais". Ao contrário de seu antecessor, Roger Agnelli, que não queria a empresa no polêmico projeto, Ferreira confirmou a participação, argumentando que antigos estudos já a haviam indicado. A obra é uma das prioridades absolutas do governo para evitar um novo apagão.
No dia da apresentação do executivo, as ações da companhia apareceram entre as mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo. As preferenciais (sem direito a voto) subiram 0,67%, para R$ 43,75. As ordinárias (com direito a voto) se valorizaram 0,43%, para R$ 48,75. Em entrevista coletiva, Ferreira indicou que vai adotar o diálogo aberto, franco e construtivo com o governo para resolver a disputa em tome dos royalties da mineração, cujo processo envolve cerca R$ 4 bilhões. Ele ressaltou que vai "defender os interesses da Vale", apesar de entender a cobrança da dívida pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

Os repórteres perguntaram ao executivo sobre planos na área de siderurgia - o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionava a empresa a aumentar a participação no setor para agregar valor ao minério. A resistência do antecessor de Ferreira, Roger Agnelli, em atender aos pedidos o desgastou com Lula e contribuiu para sua saída da Vale. Escolhido com ativa participação dos representantes do governo, Ferreira respondeu que a atividade primordial da empresa é a mineração, mas admitiu a hipótese de ampliar as atividades na área, de olho na procura doméstica por aço.

Boas vindas

O presidente do Conselho de Administração da Vale e da Previ (fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil), Ricardo flores, deu as boas-vindas ao executivo e assegurou que os investidores não têm por que temer uma maior influência política na mineradora. "Vamos atuar dentro do nicho importante para a Vale. Ela é uma empresa privada", disse. O planejamento estratégico de investimentos, que prevê a aplicação de US$ 24 bilhões, será mantido, confirmou Ferreira. Ele garantiu que, pelo menos nesse campo, continuará trilhando o caminho de Roger Agnelli. "Quem me conhece me chama de Murilo San. Sou uma pessoa disciplinada”, afirmou.
Murilo Ferreira confirmou a continuidade do projeto da Aços Laminados do Pará (Alpa), que deve ser apresentado ao Conselho de Administração da companhia ainda este ano. "Investidores locais pretendem partir para a laminação. Estamos muito entusiasmados com esse projeto e queremos que ele vá à frente", afirmou. Em relação à siderúrgica no Ceará, ele pareceu não se importar com o fato de a companhia ter entrado inicialmente como majoritária e reduzido a fatia depois. O novo presidente não cogita reduzir investimento no projeto para produção de óxido de níquel na Nova Caledônia, ilha do sul do Pacifico.
Ele não descartou novas aquisições de empresas e disse que os acionistas poderão ter boas notícias nos próximos anos. Ferreira afirmou que trabalha com um cenário do mercado de minério de ferro forte nos próximos anos e disse compartilhar da avaliação de analistas que prevêem pressão sobre os preços até meados de 2015, pelo menos. "O mercado chinês vai continuar um mercado forte, o Japão terá que fazer um esforço enorme e talvez não enxerguemos uma recuperação tão significativa nos Estados Unidos e na Europa, mas o mercado vai continuar forte", declarou.
O novo presidente não esclareceu os motivos que o afastaram da Vale em 2008. Ele se limitou a dizer que foi "o fim de um ciclo" e que não tem atitudes "intempestivas", quando eventualmente discorda de um projeto de gestão. Ele assumiu o comando da Inco quando a Vale comprou a empresa canadense e enfrentou, logo de cara, um longo período de greve.

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