quarta-feira, 25 de maio de 2011

Manifesto da #esquerdafestiva




Durante a ditadura militar, aqueles que se atreveram a comungar das idéias esquerdistas sem estarem envolvidos diretamente com a luta armada foram logo apelidados, de maneira pejorativa, como “esquerda festiva”. Eram pessoas que, embora não tenham arriscado a vida contra o regime dos fardados, participavam da resistência e bradavam contra o governo em mesas de bar e festas, entre um gole e outro. Artistas, intelectuais, boêmios: seu “esquerdismo” de nada valia… para a direita. Como se, ora bolas, mesas de bar não fossem ótimos lugares para se discutir política.

Agora, quando se vê um ressurgimento de manifestações populares anticonservadoras nascidas nas redes sociais, o termo “esquerda festiva” volta a aparecer, à guisa de crítica, aqui e ali, para tentar ridicularizar os que vão às ruas protestar contra ou para reivindicar algo. Foi assim recentemente com os jovens que acamparam em Madri e se manifestaram em Barcelona, na Espanha, “acusados” de protestarem enquanto se divertiam. Mas que absurdo: em lugar de se imolarem em praça pública, tomam vinho!

Na verdade, a “esquerda festiva” é tudo que precisávamos no mundo pós queda do muro de Berlim. Acabaram-se os cenhos franzidos das ditaduras capitalistas ou comunistas, acabou-se a tortura e a polícia do pensamento, vivemos em democracias, podemos nos manifestar alegremente. A luta armada acabou, viva a luta AMADA: lutamos em favor do que acreditamos, do que queremos, do que amamos. É possível empunhar cartazes juntos, tomando cerveja, ouvindo música, comendo churrasco ou paquerando alguém pelo caminho. No hay más que endurecer.


É hora de a “esquerda festiva” (na qual me incluo) se assumir como tal, sem demérito nenhum. Por isto quero propor este manifesto com algumas das idéias surgidas até agora pelos bares da vida e esquinas virtuais. Atenção: nem todo mundo que for às manifestações convocadas pela internet tem obrigação de aderir a manifesto algum. Aliás, a esquerda festiva não obriga ninguém a nada. Mesmo porque sua regra número um é:


- É proibido proibir, claro. E patrulhar também é bem chato.

- Nossas bandeiras: liberdade, igualdade, fraternidade, tolerância, solidariedade, gentileza, generosidade, paz, amor, alegria.

- Nossas causas: lutamos pelos direitos humanos e dos animais, pela preservação do meio ambiente, pela liberdade de credo (e de não ter credo), pela descriminalização das drogas e do aborto, pela igualdade entre os gêneros, pelo respeito aos ciclistas e por mais ciclovias nas cidades, pelas energias renováveis, pela proteção à infância e à velhice. Lutamos contra as guerras, a opressão, a violência, a corrupção, a exploração, o capitalismo predatório, os regimes autoritários, a desigualdade social, a exclusão, o analfabetismo, o transporte individual, a homofobia, a xenofobia, o racismo e toda forma de preconceito.

- A esquerda festiva será convocada a se reunir em passeatas, marchas e manifestações, mas também em bicicletadas, piqueniques, raves, shows, palhaçadas, churrascos, caminhadas, escaladas, cachoeiradas, contemplações da natureza, meditações e o que mais imaginar a criatividade de seus integrantes.

- Nas manifestações será permitido paquerar, beijar, abraçar e fazer cafuné para não perder a ternura.

- A esquerda festiva não admite paredões, fuzilamentos, exílio ou prisão de dissidentes. Quem pensa diferente é só alguém que pensa diferente.

- Pessoas de todos os partidos serão bem-vindas: a esquerda festiva independe de partidos ou classe social.

- Todos os eventos serão gratuitos e sua organização, voluntária.

- Discursos (curtos) serão aceitos, mas a esquerda festiva considera que rodas de samba e batuques em geral falam mais do que mil palavras.

- A esquerda festiva não cabe em manifestos nem aceita rótulos – inclusive o de “esquerda festiva”.

Cynara Menezes

Cynara Menezes é jornalista. Atuou no extinto "Jornal da Bahia", em Salvador, onde morava. Em 1989, de Brasília, atuava para diversos órgãos da imprensa. Morou dois anos na Espanha e outros dez em São Paulo, quando colaborou para a "Folha de S. Paulo", "Estadão", "Veja" e para a revista "VIP". Está de volta a Brasília há dois anos e meio, de onde escreve para a CartaCapital

3 comentários:

Geopolêmica disse...

Cá estou!!! Mais um a cerrar fileiras nesse grupo.........temos é que SOMAR cada vez mais.

H.Pires disse...

NUNCA ESQUECER QUE A DIREITA ESTA ARMADA. O que em nada inviabiliza esta PERFEITA "postura" politica. Tudo de bom. Esquecem aqueles(me incluo) que, outrora, diziam "Revoluções não são efetivadas em uma mesa de bar. As revoluções se consolidam nas ruas". Não é uma "total" verdade pois, as ideias se proliferam em mesas de bar. Dali saem, também, para as ruas. No mais, isto é um POEMA EFICAZ, e a ser seguido. RESPEITO AO SER HUMANO, A NATUREZA/FLORESTAS E AOS ANIMAIS. Com a proteção de Nossa Senhora de Fatima. AMEM! Como diziam: SEXO, ESPORTES E "ROCK IN ROOL". TUDO DE BOM

H.Pires disse...

Se me permite, esta na folha 27/05, que tem tudo com o comentado acima. Um imbecil de nome Sergio Cabral(governador do Rio) que NÃO RESPEITA OS ANIMAIS: "... Não é a primeira vez que o STF julga improcedente lei estadual que disciplina a RINHA DE GALOS. Em 2005, o tribunal declarou inconstitucional lei de Santa Catarina e, em 2007, do Rio Grande do Norte.
Em defesa da lei, o então presidente da Assembleia Legislativa e atual governador do Estado, Sérgio Cabral, alegou que a norma pretendia permitir que o poder público pudesse controlar e fiscalizar diversas associações e federações esportivas do setor. Ele também afirmou, à época, que a briga de galo era "um forte fator de integração de comunidades" do interior do Estado e gerava empregos...".