segunda-feira, 21 de março de 2011

A volta do vira-lata


O complexo de vira-lata que assola a alma brasileira (segundo Nélson Rodrigues) não poderia faltar na visita do presidente Barack Obama aos trópicos.

Boa parte do noticiário girou em torno de como o "dono do cachorro" o afagaria em sua pretensão de ser integrante permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Se seria enfático, se seria suave, se se omitiria, se faria com o Brasil o que fez com a Índia (endosso formal).

É evidente que a posição dos Estados Unidos a respeito do que quer que ocorra no planeta é relevante, por se tratar da única superpotência remanescente, depois do fim da União Soviética (que, aliás, revelou-se superpotência de pés de barro).

Mas daí até ficar pendente de uma palavra do presidente norte-americano como se fosse a tábua da lei vai uma distância considerável que não é preciso percorrer.

O Brasil vai (ou não) ser membro do CS da ONU, o coração do sistema Nações Unidas, pelo que é, principalmente, e também pelo que faz (ou deixa de fazer). Não pelo que diga ou deixe de dizer Obama ou qualquer outro líder.

Nesse sentido, o Brasil é candidato mais que natural a um lugar no CS. É a segunda maior democracia do hemisfério ocidental, depois dos próprios Estados Unidos, é a sétima economia do planeta, é uma zona de paz, que não tem conflito com os vizinhos nem enfrenta problemas étnicos, religiosos etc.

Logo, acabará ganhando sua vaga no Conselho, a menos que seus governantes façam muita besteira. Desde a redemocratização, foram de fato feitas incontáveis asneiras por diferentes presidentes, mas nenhuma delas suficiente para invalidar a condição natural do Brasil como candidato à vaga.

Os dois presidentes mais recentes, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, puseram o país na agenda do planeta, mais Lula do que FHC, o que não deixa de ser contraditório com a condição de intelectual globalizado deste em contraste com um operário que parecia muito mais voltado para o interior.

É evidente que há críticas --internas e externas-- a algumas ações ou omissões de um e de outro. Eu mesmo, nos espaços que a Folha-papel comete o erro de me emprestar, fiz e ainda faço todas as críticas que achei corretas --e não me arrependo de nenhuma delas. Mas uma coisa é discordar de alguma ação ou omissão, outra, completamente diferente, é entender que ela inabilita o país para voos ainda mais altos.

Ante as condições naturais do Brasil --e olhe que sou o inimigo número 1 do patrioteirismo--, qualquer palavra de Obama beira, no médio e longo prazo, à irrelevância.

Até entendo que a visita acabou produzindo menos emoções que a princípio se supunha, o que leva o jornalismo a se agarrar em detalhes nem sempre relevantes. Mas o público não deve se enganar. Primeiro, a reforma da ONU anda em passo de tartaruga e é razoável supor que a decisão, se chegar finalmente a ser tomada, ficará para a época do sucessor do sucessor de Barack Obama.

Segundo, nesse momento, salvo, repito, a hipótese de uma grande bobagem, o Brasil terá a sua vaga garantida.
Clóvis Rossi
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às quintas e domingos na página 2 da Folha e, aos sábados, no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".

4 comentários:

Ana Cruzzeli disse...

Seu Terror
Discordo do Clovis, a vaga brasileira no CS é mais remota do que nunca. Imagine o cenário, um país sozinho pode evitar guerras simplesmente votando contra, a Europa e EUA jamais permitirão tal coisa, a India entra primeiro o Brasil vai ralar mais um pouco.
Os EUA irão vetar junto a seu congresso nacional a menor possibilidade de assento brasileiro, contudo o cenário economico mundial é favorável para algo maior, a reformulação da propria ONU. Quando a Libia ganhar a guerra contra as forças de coalizão e vai ganhar, aí sim a coisa vai começar a se reformular. Os EUA e a Europa dão seu ultimo suspiro, o moribundo está a morte, outras forças se alinham pois o dinheiro está mudando de mãos. Doravante o povo estadunidense e europeus vão começar a pressionar para uma mudança de liderança em seus países de origem, pois estão ficando pobres rápido demais.
A unica coisa que cabe ao Brasil nesse momento é crescer e se desenvolver o mais rapidamente possivel, fazer a melhor distribuição de renda a seus cidadãos, reforçar seus laços de cooperação com os vizinhos latino-americanos, africanos e árabes, sempre se posicionar contra qualquer tipo de intervenção, a unica intervenção que deve acontecer é através do dialogo.
No mais é so assistir a dorrocada dos impérios, eu confesso que achava não está viva para ver. Estou aproveitando cada momento, registrando cada acontecimento para contar daqui há 30 anos como o Brasil virou uma superpotencia economica e qual foi o seu papel em favor da paz.

Panambi disse...

Uma vez babaca, mesmo com algum "mea culpa" em relação ao tratamento completamente torto dispensado ao "cara",sempre babaca!!!!

Anônimo disse...

Esses Petralhas são contraditórios e nos fazer rir com suas ridicularidades na política externa.
Pergunto : Gostaria muito de saber porque o governo Lula/Dilma insiste tanto para que o Brasil tenha um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU .
Para que ? , se na hora de votar o mundo já sabe que o voto será sempre NEUTRO .
Kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Fui...

VERA disse...

Realmente!!! Os LAMBE-BUNDAS, TIRA-SAPATOS e CALÇAS-pro-império são uns BURROS que NÃO sabem o que é SOBERANIA!!! Estão tão acostumados a rastejar que desconhecem o significado do que seja AUTODETERMINAÇÃO!!!

Tucanalhas-vira-latas nojentos!!!