quinta-feira, 24 de março de 2011

Assassinato da verdade na Líbia

 
Messias Pontes *

Em toda guerra, a primeira e principal vítima é a verdade. Historicamente tem sido assim e vai continua sendo. Sob o pretexto de defender os civis líbios, o imperialismo, notadamente o norte-americano, escamoteia a verdade usando a velha mídia sob seu domínio, como sempre faz. É a terceira guerra em que os Estados Unidos estão envolvidos: Iraque, Afeganistão e agora a Líbia.


As agências noticiosas controladas pelo imperialismo divulgam informações mentirosas e procuram dar um caráter “humanitário” às agressões perpretadas em todo o mundo e muitas vezes passando por cima das decisões das Nações Unidas. Sob o pretexto de dar cabo às “armas de destruição em massa” em poder de Saddan Roussein, mesmo os inspetores da ONU tendo afirmado que isso não existia no Iraque, o sanguinário presidente ianque George W. Bush ordenou o ataque e ocupação daquele país, matando mais de um milhão de civis e depois prendendo e enforcando o seu ex-aliado e amigo.

Na verdade, o objetivo era se apropriar, como o fez, do petróleo daquele país. Além de não existirem armas de destruição em massa, o exército do Iraque estava completamente sucateado, no que pese Saddan ter sido financiado pelos Estados Unidos para agredir o Irã. Osama bin Laden – hoje inimigo número um - também foi armado e financiado pelos ianques para resistir à agressão soviética, em 1980.

Semana passada o Conselho de Segurança da ONU decidiu estabelecer uma área de exclusão aérea sobre o território líbio para “evitar” que os aviões de Muammar Kadafi bombardeassem os “civis” insurgentes. Mas o que está acontecendo há cinco dias é um bombardeio pesado contra a população civil, inclusive já foram destruídos um hospital, um conjunto habitacional e vários tanques e aviões de guerra. Centenas de civis já foram mortos pela aviação e mísseis lançados de submarinos e outro tanto se encontra ferido.

Enquanto isso, civis desarmados estão sendo dizimados impiedosamente pelos ditadores de Bahrein, Arábia Saudita e Iêmen sem que haja uma condenação, por pequena que seja, por parte dos governos da França, Reino Unido, Espanha, Canadá, Itália, e principalmente dos Estados Unidos. Naqueles três países a população civil está exigindo liberdade, emprego, melhores condições de vida e a saída dos cruéis ditadores, exemplo do que já ocorreu na Tunísia e no Egito. Mas essa verdade a velha mídia e as agências de notícia ligadas ao imperialismo não noticiam.

Na recente viagem que empreendeu ao Brasil e ao Chile, o presidente norte-americano, Barack Obama, deixou cair a máscara e revelar o objetivo final do imperialismo que é a dominação das riquezas do Líbano e a destituição de Kadafi. Foi daqui, num desrespeito à posição assumida pelo Brasil, que juntamente com a Rússia, a Índia, a China e a Alemanha se absteve na votação do Conselho de Segurança da ONU sobre a área de exclusão aérea da Líbia, que Obama ordenou o ataque à Líbia.

O argumento do Brasil, e dos outros quatro que se abstiveram, era de que a intervenção militar por forças estrangeiras poderia apresentar resultados contrários ao visado, provocando vítimas inocentes. Os fatos estão mostrando a razão do argumento do Brasil e provando que tudo não passou de pretexto para se apoderar das riquezas do país e impor um novo regime, dócil, que atenda aos seus interesses.

A arrogância e prepotência de Obama, que não se diferenciam dos seus antecessores, em especial do criminoso George W. Bush, foram explicitados na última segunda-feira 21, em Santiago, quando enfatizou em conversa com o direitista presidente chileno Sebastian Piñera: “Agora, eu também estabeleci que a política americana e a de que Kadafi precisa ir embora”. Por sua vez, o porta-voz da diplomacia americana, Mark Toner, não deixa dúvida quanto à posição dos Estados Unidos: “Tentamos convencer o coronel Kadafi, seu regime e seus aliados que devem deixar o poder. Esse será o nosso objetivo final”.

A bem da verdade, é preciso que se diga que a máscara do presidente ianque caiu mesmo antes de ele assumir essa posição de agredir a Líbia. Suas promessas de campanha de fechar a base militar de Guantánamo - transformada em centro de prisões ilegais e de tortura em território cubano -, retirar as suas forças do Iraque e reconhecer o Tribunal Internacional Penal não foram cumpridas. Pior, o orçamento militar (de guerra) mais que dobrou, sendo maior que a soma dos gastos militares de todos os países do mundo.

Aqui não se trata de defender Muammar Kadafi, mas é imperioso esclarecer que a Líbia detém o maior IDH - Índice de Desenvolvimento Humano – de toda aquela região, com grandes investimentos principalmente em saúde e educação. É preciso que se diga também que a esmagadora maioria dos líbios não aceita a intervenção estrangeira no país, e que a maioria dos “insurgentes” é composta por mercenários armados e financiados pela CIA.

Os crimes perpetrados contra a população civil da Líbia, estão causando revolta em todo o mundo, inclusive nos países que concordaram com a exclusão do espaço aéreo líbio, notadamente na Liga Árabe que já denuncia o caráter belicoso das potências imperialistas.

Quanta hipocrisia!

* Diretor de comunicação da Associação de Amizade Brasil-Cuba do Ceará, e membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará e do Comitê Estadual do PCdoB

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