terça-feira, 22 de junho de 2010

O modo José Serra de perseguir jornalistas


Para entender a reação grosseira de José Serra à pergunta de Heródoto Barbeiro, é preciso retomar 2005. Naquele ano formou-se a frente jornalística destinada a depurar as redações de qualquer voz discordante em relação à nova linha acertada. entre jornais, mais a Veja. José Serra esteve à frente dessas articulações.

Por Luis Nassif, em seu blog


Naquele ano, ele tentou por várias vezes emplacar um programa de Reinaldo Azevedo na TV Cultura. Desistiu depois de resistências gerais. Mas pressionou por diversas vezes o Roda Viva para incluir o blogueiro entre os entrevistadores.

Ao assumir o governo de São Paulo, deixou claro sua ojeriza a Heródoto, a quem acusava de ser petista. Provavelmente por pressão dele, o Paulo Markun afastou Heródoto da ancoragem do Jornal da Cultura. Foi uma medida incompreensível para quem não acompanhava os bastidores já que, até então, os únicos jornalistas da Cultura com premiações permanentes nas eleições do portal Comunique-se (que congrega mais de 100 mil jornalistas de todo o país) eram Heródoto e eu, além do próprio Markun. Heródoto, aliás, uma unanimidade como âncora de rádio e de TV.

Markun liquidou com o modelo histórico do Jornal. Ante uma avalanche de reclamações, Heródoto voltou à ancoragem — mas dentro de um formato anódino em que praticamente foi anulado. Entre os que acompanham sua carreira, só paranoicos da ultradireita ousariam tachá-lo de petista.

Quanto à resposta do Serra à questão do pedágio, revela a dificuldade em casar discursos. Defende genericamente queda na carga tributária. Mas a argumentação em favor dos pedágios mostra claramente a opção pelo aumento da carga.

Quando diz que “aprimorou” os pedágios, os pontos que levanta são a obrigatoriedade das concessionárias investirem nas próprias estradas e de pagarem pelas concessões para investimentos em estradas vicinais.

Trata-se de uma forma óbvia de aumento brutal disfarçado de tributos. Os bilhões que as concessionárias pagaram ao Estado foram incluídos no preço dos pedágios, é óbvio. Os recursos para estradas, antes, saíam, do IPVA e do orçamento estadual. Agora, além de pagar o ICMS e o IPVA, o contribuinte paulista paga adicionalmente os pedágios. E essa conta salgada não entra no cálculo da carga tributária paulista. Na resposta de Serra é como se o dinheiro tivesse saído do lucro das empresas.

E não se trata de nenhum aprimoramento: esse modelo de concessão (a chamada concessão onerosa) sempre foi empregado nas concessões paulistas, desde os tempos de Mário Covas. Mantém tudo como está e diz que "aprimorou" a mudança. Se aprimorou alguma coisa, foi a cobrança.

Estilo Maluf

Serra incorporou também um estilo bastante empregado por Paulo Maluf nas entrevistas. Quando questionado sobre um ponto, cobra do entrevistador detalhes do tema perguntado. Entrevistador têm as perguntas; presume-se que os entrevistados, a resposta. Devolver a pergunta ao entrevistador, exigindo dele conhecimentos detalhados do tema é malandragem típica do estilo Maluf — que Serra vem empregando continuamente nas suas entrevistas. Depois de tentar desarmar a pergunta com essa jogada, sofisma-se à vontade. Ou, como no caso do pedágio, mente.

Por exemplo, insistiu que na rodovia Ayrton Senna o pedágio caiu pela metade. Mas não informou que a cobrança dobrou: antes, cobrava-se numa direção única; depois da mudança, passou-se a cobrar na ida e na volta.

Do site Caminhoneiro: “Os valores irão variar entre R$ 2,30 e R$ 1,70. Mas os motoristas terão que pagar em quatro praças, enquanto antes paravam para pagar em apenas duas. O valor será o mesmo, mas o tempo perdido será maior”.

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