sexta-feira, 30 de abril de 2010

Torturadores continuam impunes. Mas não perdoados


A decisão do STF desta quinta-feira envergonhou o País. A Lei da Anistia continua como está

Por Brizola Neto

O dia 29 de abril deve entrar para a história como uma data de vergonha para o Brasil. O dia em que a maior Corte do país recusou a oportunidade histórica de apagar uma mancha que continua a torturar centenas de famílias brasileiras. Enquanto outros países da América Latina, que também viveram sob ditaduras militares ferozes, processam, julgam e prendem torturadores e os que os comandaram, o Brasil continua ignorando sua história e fingindo que nada aconteceu.

Dois votos impediram que a dignidade humana fosse ferida de morte hoje no STF. Mas infelizmente, a maioria dos ministros acompanhou o voto do relator Eros Grau pela manutenção da Lei de Anistia, que veda a possibilidade de processar torturadores. Aqueles, que agindo em nome do Estado, torturaram, mataram e desapareceram com muitos brasileiros, continuam impunes.

Disse que estes votos salvaram a dignidade humana porque ela sobrevive mesmo a golpes absurdos como este. Regenera-se, recompõe-se e, algum dia em nossa historia, há de impor-se sobre o mesquinho pensamento de que uma discutível tecnicalidade da lei possa suplantar o sentido de convivência civilizada que é a finalidade do Direito. Deixo aqui meu reconhecimento à honradez dos ministros Ayres Britto e Ricardo Lewandovski, que condenaram o crime hediondo da tortura e o distinguiram, com clareza, dos crimes políticos que a Anistia perdoou. Derrotados hoje, seus votos vencerão o tempo como marcados pela coragem, pela justiça e pelo respeito ao ser humano.

A tortura é um crime imprescritível, o afirmam os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário e, acima deles, a consciência humana. Nem mesmo o resultado triste da sessão de hoje do STF pode fazer com que este crime prescreva. Pode fazer com que os que o cometeram fiquem, mais que impunes, ocultos. Mas os dias os revelarão, cedo ou tarde.

Porque a vergonha é um estigma que não se apaga, senão pela verdade.

Um comentário:

Luiz Claudio C. Souza disse...

Bem, após o “show” de saber jurídico exibido pelo STF, estamos todos conscientes então, de que, todas as vezes que a direita tiver os seus “importantíssimos” interesses pessoais contrariados, esta pode tomar o poder pela força das armas, ignorar e rasgar a constituição, governar o tempo que, e como, quiser, soltar seus cães em cima da gente, torturar, estuprar e sumir com os corpos, que depois basta fazer o seguinte acordo: “Agora que “está tudo dominado” e do jeitinho que agente queria, ou nossos crimes e aberrações são anistiados ou então nada de democracia.”