quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ensino público com padrão internacional


Autor(es): Por Stela Campos, de São Paulo
Valor Econômico - 27/01/2010

Enquanto os ex-alunos dos cursos de MBA das principais escolas de negócios do mundo vêm reportando ganhos cada vez menores nos salários, os executivos graduados no Instituto Coppead contabilizaram um aumento de 111% nos últimos três anos. A remuneração da escola brasileira foi um dos quesitos que garantiram ao instituto a 65ª colocação entre os melhores cursos do mundo no disputado ranking do jornal britânico "Financial Times" deste ano. O curso é o único representante da América do Sul e está bem acima da outra escola latino-americana eleita, a mexicana Ipade, que ficou na 93ª posição.

Em dez anos, a escola brasileira apareceu oito vezes no ranking do FT. Subiu 27 posições em 2010 em relação ao ano passado. Na primeira colocação do ranking permanece a London Business School (LBS), que no ano passado dividiu a liderança com Wharton, escola de negócios da Universidade da Pensilvânia. Este ano, Wharton caiu para o segundo lugar (ver tabela abaixo). "Estamos muito felizes com o resultado", diz Vicente Ferreira, vice-diretor de educação executiva do Instituto Coppead.

O fato de a crise ter tido um impacto menor no Brasil, segundo Ferreira, pode ter contribuído para que os acréscimos nos salários dos ex-alunos se destacasse em relação aos dos americanos e europeus, além da valorização do real frente ao dólar. O levantamento do FT é feito com estudantes que se formaram há três anos. Eles relataram uma remuneração média anual de US$ 105 mil em 2009. "Ainda estamos longe das grandes escolas onde a média é de US$ 160 mil por ano, mas foi um ótimo resultado", afirma Ferreira. O professor diz que outros fatores contribuíram para a escalada no ranking, como a maior internacionalização da escola e a exposição dos estudantes em intercâmbios e torneios internacionais de administração.

O curso do Coppead é gratuito, pois pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para ser admitido, o candidato precisa ser aprovado primeiro no exame da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (Anpad). É necessário ainda preencher alguns pré-requesitos para continuar o processo de seleção como ter no mínimo três anos de experiência de trabalho. Depois, ele realiza uma redação em inglês e outra em português. A última etapa é uma entrevista no instituto. "Temos uma média de 15 candidatos disputando uma vaga", diz Ferreira.

A escola é pequena e cresce com parcimônia. Há quatro anos, o mestrado- classificado como MBA full time no FT- aceitava até 35 alunos por classe. Hoje, esse número pode chegar a 50, dependendo do nível dos candidatos. "Para crescermos precisamos ter um número compatível de orientadores. Para abrir novas vagas para professores na esfera pública é complicado, mesmo com tantos se aposentando", diz. Atualmente, o instituto tem 22 professores permanentes no mestrado e outros 8 como colaboradores, todos doutores.

O Coppead forma 130 alunos por ano nos cursos stricto sensu de mestrado e doutorado e cerca de 800 estudantes nos lato sensu, que são os MBA part-time, os cursos para recém-formados e os "in company". Além de customizar seu ensino para grandes companhias como Petrobras, Vale e Oi, o instituto atende instituições oficiais. Há sete anos, ensina gestão para os estudantes da Escola de Guerra Naval e há dois anos para a Escola Superior de Guerra. "É uma experiência bastante enriquecedora para nós lidar com esses oficiais", diz o vice-diretor.

O mestrado do Coppead existe desde 1973 e já formou 900 alunos. O curso de doutorado, criado em 1989, graduou 60 doutores. A idade média dos estudante do mestrado é 29 anos. Pela primeira vez em sua história, este ano a classe terá mais mulheres do que homens. Serão 25 alunas numa turma de 45. "Foi uma surpresa para nós", diz Ferreira. A presença feminina no quadro de docentes e estudantes é um dos aspectos avaliados pelo "FT" no ranking das melhores escolas.

Outro fato curioso do mestrado é a presença de alunos internacionais. "Já tivemos um mexicano, um holandês, um israelense, entre outros. São estrangeiros curiosos em relação ao Brasil por conta do crescimento dos BRICs", diz Ferreira. O que chama atenção é que por ser uma escola pública o curso do Coppead precisa ser ministrado em português, incluindo a dissertação final. "Os que sabem um pouco da língua vão se aperfeiçoando ao longo do curso", afirma.

O instituto surgiu a partir do Coppe (Coordenação de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia), criada nos anos 70 como uma unidade da UFRJ. Em 1973, ao Coppe foram adicionadas as letras "ad", que passaram a representar uma nova seção de pesquisa direcionada para a gestão. Em 1978, ela se tornou independente e há dez anos foi transformada em um instituto ligado à universidade. Desde a fundação, ele funciona na Ilha do Fundão, na capital carioca. Como muitas escolas de negócio de origem americana trazem no título o nome de um patrocinador ou fundador, como Wharton ou Kellogg, o professor conta que ao participar de eventos internacionais já lhe perguntaram: "O senhor Coppead ainda é vivo?" Sim. Aos 37 anos, ele está na sua melhor forma.

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