quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Juca Ferreira diz que jornalistas 'são pagos para mentir'

Ministro da Cultura reagiu a questionamentos sobre panfleto com lista de parlamentares que apoiam a pasta


Estado de S.Paulo

RIO - A ocasião era festiva - o anúncio do novo Programa BNDES para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (Procult), pelo qual será destinado R$ 1 bilhão para projetos culturais, até 2012. Mas os representantes do setor que foram ao banco na manhã de quarta-feira, 25, para prestigiar a iniciativa se depararam com outra discussão: a impressão, pelo Ministério da Cultura, de um panfleto, dirigido a eleitores, com uma lista de mais de 250 parlamentares que votam favoravelmente às iniciativas da pasta.

Logo depois do anúncio, feito pelo diretor de inclusão social e crédito do BNDES, Elvio Gaspar, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, foi questionado sobre o folheto, mas respondeu que preferia falar sobre o Procult. Quando os repórteres insistiram, Ferreira, que na terça-feira, 24, havia negado que o panfleto houvesse sido impresso pelo ministério, esclareceu que se trata de uma lista com nomes de vários partidos, e não só da base aliada. Ele atacou a imprensa, dizendo que os jornalistas "são pagos para mentir".

Ao ser questionado pelos repórteres porque, na terça-feira, havia dito que o material não fora financiado pelo ministério, Ferreira respondeu com irritação. "Só vou dizer isso: criaram um factoide e vocês são vítimas desses factoides. Eles criaram isso para atrasar a votação do vale", justificou, referindo-se ao Vale Cultura (cartão que dará R$ 50 mensais a trabalhadores para serem gastos com bem culturais).

Ferreira argumentou ainda que a publicação do material era legítima, por se tratar de material suprapartidário. "A frente (parlamentar) não teria tempo de publicar e pediu pra gente publicar. Tem ofício", disse. A lista, que teve tiragem de 4.500 exemplares a um custo de R$ 11 mil, tem deputados federais de todo o País, de partidos como PT, PSDB, PP, PV, PMDB, DEM e PDT.

Apoios

Ouvidos nesta quinta-feira, 26, dois representantes do setor cultural comentaram o assunto que tirou o ministro do sério. O presidente da Associação dos Produtores de Teatro do Rio, Eduardo Barata, assim como a presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livro, Sônia Machado Jardim, concordam que é importante para o eleitor interessado na área cultural saber o posicionamento dos parlamentares com relação a questões referentes a ela.

Como não viram o folheto - distribuído durante a votação do Vale Cultura, na terça-feira, na Câmara dos Deputados -, eles não quiseram falar especificamente sobre seu conteúdo. Barata, no entanto, ressalva que é preciso ter cuidado para que eleitores ingênuos não sejam manipulados. "Mas não acredito que tenha tido conotação eleitoral", disse.

"Como profissional, vivo de cultura, então eu gosto de ter a informação de quem está a favor do projeto de lei que aumenta o orçamento do ministério, do Vale Cultura, das mudanças na Lei Rouanet. É muito difícil acompanhar de perto, até porque os deputados mudam de opinião rapidamente", afirmou o produtor.

No meio editorial há quinze anos, Sônia, que é vice-presidente de operações da editora Record, também procura se manter informada. "Não sei se era propaganda política. Eu estou num setor que tem tão pouco recurso, que a gente deve buscar quem tenha uma plataforma que possa ajudar. Os deputados, senadores e vereadores em quem eu voto devem ter alguma coerência com meu pensamento", opinou. "Faz muito mais sentido eu dar o meu voto a um deputado que entenda de cultura do que para um da bancada ruralista."

Além do setor teatral e editorial, o do cinema também estava representado no BNDES. O Procult vai aceitar propostas também nas áreas de patrimônio histórico, música, jogos eletrônicos e dança. Até então, o banco só financiava o setor audiovisual (o BNDES é dos maiores patrocinadores do cinema brasileiro, junto com a BR Distribuidora).

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