segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sobre Sarney

DE JULHO DE 2009


A Mesa do Senado, recentemente empossada, não é responsável pelos atos de anos atrás, revelados e repelidos pela população. No entanto, quer-se afastar o seu atual presidente. A Mesa funciona como um colegiado, não sendo ninguém individualmente responsável pelo que o conjunto delibera. Ainda assim, há quem insista na saída de Sarney. O Senado é uma Casa política, fundamental para a governabilidade do país, que está às vésperas do “ano político de 2010”. E um argumento é habilmente construído, pelo qual o afastamento de Sarney não tem nada de político. Por tudo isso, acredito ser importante examinar politicamente a situação.


Por Haroldo Lima*

José Sarney é um político conservador, como a maioria que está no Senado. Protagonizou, entretanto, como poucos, papel importante, decisivo mesmo, em momentos cruciais da vida brasileira. Tendo pessoalmente participado de alguns desses momentos, sinto-me no dever de relembrar pelo menos três deles, principalmente à esquerda brasileira.

Em abril de 1984, o movimento das “diretas já” foi derrotado no Congresso Nacional. Forças democráticas perceberam a possibilidade de irem ao Colégio Eleitoral para derrotar a ditadura. Isto acontecendo, o fim do autoritarismo poderia ser encaminhado através do restabelecimento das liberdades, das eleições diretas e da convocação de uma Constituinte livremente eleita. As forças de oposição à ditadura, quase todas, uniram-se com esse propósito, em torno da figura de Tancredo Neves. Conseguiu-se amplo apoio do povo nas ruas. Mas havia um problema: toda a oposição unida tinha 330 votos no Colégio Eleitoral, enquanto o PDS sozinho contava com 365 sufrágios. A solução era dividir o PDS.

Pela pressão das ruas, pelas articulações de Tancredo, algo inesperado sucedeu. O presidente nacional do PDS, José Sarney, rompeu e saiu do PDS, formou uma Frente Liberal com gente do próprio PDS e apoiou a Aliança Democrática de Tancredo. Veio a ser o vice de Tancredo. A correlação de forças se inverteu no Colégio, e o resultado todos sabemos. No dia da votação, Tancredo teve 480 votos, Maluf 180. A ditadura foi derrotada. Sarney deu contribuição inestimável.

Na continuidade, Tancredo morre. Sarney assume em clima tenso. Os militares, ainda no poder, não o viam bem, os inconformados consideravam-no um desertor. Mais ainda, o chefe supremo, o general Figueiredo, recusou-se a passar-lhe a faixa presidencial. Por outro lado, o processo que visava pôr fim ao regime autoritário, e que apenas começara com a vitória no Colégio Eleitoral, não podia parar. Por oportuno, lembremos: Sarney encaminhou o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, prefeitos das capitais e dos municípios considerados “areas de segurança nacional”; promoveu a extensão aos analfabetos do direito ao voto; deliberou pela legalização da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da União Nacional dos Estudantes (UNE), do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), do então Partido Comunista Brasileiro (PCB). E convocou a Assembléia Constituinte que se instalou em 199. Claro que houve ações de outra natureza, que provocaram rejeição da esquerda. Mas Sarney cumpriu um papel de grande relevo na transição a um estado de direito democrático.

Finalmente, um testemunho relacionado à área onde hoje atuo, a petrolífera, e à empresa brasileira principal dessa área, a Petrobrás. Em 20 de junho de 1995, a Câmara dos Deputados aprovou um Relatório sobre Emenda Constitucional enviada pelo governo, “quebrando” o monopólio estatal do petróleo. A vantagem que o Relatório tivera foi muito maior do que imaginávamos, 200 votos. Mas, pressentíamos e temíamos o pior: aprovado o Relatório no Senado, e com votação tão expressiva, o governo de FHC encaminharia a privatização da Petrobras. Seria um desastre para o país. Era tudo o que não queríamos.

Articulamos uma emenda no Senado, a de Ronaldo Cunha Lima: o Relatório iria à votação com um acréscimo, a proibição de se privatizar a Petrobras. O governo não aceitou. Ficava claro que a privatização da estatal viria em seguida à votação do Relatório. A situação era difícil. O movimento popular já produzira uma greve de petroleiros, que acabara sem resultados. Estávamos debilitados.

Foi quando o presidente do Senado expressou que só colocaria o Relatório em votação se recebesse do presidente da República um texto por ele assinado, no qual estivesse patenteado o compromisso de que não iria privatizar em seguida a Petrobras. O presidente do Senado era José Sarney. E FHC, no dia 9 de agosto de 1995, assinou texto comprometendo-se a não encaminhar a privatização da Petrobras. Grande vitória. Façamos justiça: a contribuição de Sarney foi decisiva.

Porisso, quando agora fatos lamentáveis são revelados, ligados não a grandes projetos nacionais mas à administração interna do Senado, é justo querer apurá-los com rigor. Mas quando se cogita de afastar o presidente Sarney para supostamente facilitar essa apuração, é importante lembrar fatos históricos irrefutáveis, ligados a grandes projetos nacionais, de agenda progressista, para os quais ele já contribuiu e o projeto nacional em curso, com o qual ele está comprometido.

Cabe então questionar. Afastar por quê? Para por quem no lugar? Para enfraquecer que projeto? Para fortalecer que outro?


* Ex-líder da bancada federal do PCdoB

9 comentários:

Anônimo disse...

Não adianta tergiversar. O resumo da ópera é simples: o "Coronel" Lula da Silva come, agora, na mão desse alopradão tamanho "famiglia", que é "O Cara" do seu desgoverno. E não há prestidigitação verbal que possa acobertar isso.

O TERROR DO NORDESTE disse...

Lula tá certo, essa elite safada tem de ser comprada mesmo.

Anônimo disse...

Tá certo. Mas que não venha se queixar depois da merecida alcunha de "presidente do mensalão", pela qual será lembrado até o final dos tempos!

O TERROR DO NORDESTE disse...

Um partido comprar um outro para apoiar em uma eleição é uma coisa, o governo pagar mesada a deputado é outra, totalmente diferente. Esse negócio de mensalão é coisa do PIG em conluio com Jeferson e aceito pelos leitores e procurador encabrestados pelo PIG.

O TERROR DO NORDESTE disse...

De que o PT foi acusado por RF na época do tal mensalão? Que o PT houvera prometido dar 15 milhões ao PTB para se coligar com ele(o PT). A mesma coisa foi feita em relação ao PL. Aonde está a ilicitude neste ato?

Anônimo disse...

O desgoverno do "Cel." Lula da Silva e o partido-capacho não se contentaram com nenhuma dessas coisas: fizeram as duas, quando compraram o PTB do "Bob" e os "300picaretas" do Congresso.
A denúncia do Golpe do Mensalão, como se sabe, não só foi encampada pelo PGR, como também foi aceita pelo STF, de tal modo que o homem-forte do "Coronel", bem como os seus mensaleiros, amargam hoje o banco dos réus. Com ou sem a chorumela do PIG lulopetista e dos demais encabrestados desse imenso balcão de negócios escusos em que o país está se transformando!

O TERROR DO NORDESTE disse...

Já disse eu vou repetir: o procurador-geral da República recebeu o cabresto do PIG para oferecer aquela denúncia ao gosto dos leitores encabrestados pelo PIG, tanto é que deixou de fora Daniel Dantas, não obstante CartaCapital passar mais de 3 anos dizendo que tinha dedo de Dantas no Valerioduto, Dantas, por sinal, que teve o azar de ser denunciado, no dia de hoje, pelo procurador da República De Grandis, fazendo este referência expressa aos R$ 50 milhões da Brasil Telecom colocados nas agências de publicidades do tucano Marco Valério.Ora, por que o nobre PGR não denunciou Daniel Dantas, já que a denúncia dele é tida tão inatacável pelos leitores encabrestados do PIG e pela oposição corrupta?

Anônimo disse...

Se as maracutaias todas do Daniel Dantas viessem à tona, aí é que nós poderíamos supor que o circo lulopetista poderia pegar fogo mesmo!
Quem é que não se lembra, por exemplo, de que o banqueiro acusou o desgoverno Lula e o PT de extorsão e perseguição por ter recusado a sugestão, via Delúbio Soares, para pagar dezenas de milhões de dólares ao partido para evitar assédios ao Opportunity e ao Fundo CVC?
Segundo Dantas, ele teria pago, para amansar o "Coronel" e o PT, 100 mil reais mensais por serviços da empresa Gamecorp, de Fábio Luís Lula da Silva.
Além dessa denúncia de extorsão, o banqueiro alegou, também, ter descoberto os números de supostas contas, em paraísos fiscais, do "Coronel" e de outras importantes figuras do partido-capacho.
Como se pode verificar, Daniel Dantas é um assunto bastante indigesto para o desgoverno do "Cel." Lula da Silva e o seu partido-capacho.
Quanto à denúncia oferecida pelo PGR, faço constar que ela foi aceita pelo STF, de tal modo que o desgoverno Lula, muito bem representado por seu homem-forte, por altas figuras da administração partidária e pelos mensaleiros do partido, encontra-se, hoje, merecidamente, no banco dos réus. Mas, ainda assim, é de se supor que muitos tubarões do partido tenham escapado!
É digno de nota o fato de que tudo isso ocorreu mesmo diante da oposição ferrenha do PIG lulopetista e da imensa legião de encabrestados que o desgoverno de "Coronel" e o partido-capacho mantêm pelo país afora!

Anônimo disse...

E nada de criticar o PGR. Na verdade, ele foi bonzinho demais. Já pensou se ele tivesse teimado em fazer o serviço completo? Quem sobraria, do lulopetismo, para desgovernar o país? Na verdade, o lulopetismo ganhou na Mega-Sena e, no entanto, matreiramente, finge que foi duramente castigado. Numa metáfora de futebol, seria como aquele jogador farsante que leva um simples toque do adversário e logo se atira espetacularmente no chão, gritando de dor.
O fato definitivo e irrefutável nessa história toda é que o PGR salvou o lulopetismo de si mesmo.