quinta-feira, 2 de julho de 2009

O BRASIL E A EXCEÇÃO EUROPÉIA

Publicada em:01/07/2009


Berna (Suiça) - O banco suíço UBS parece aquelas maldições gregas pelas quais a desgraça chega. Seus dias estão praticamente contados mas vai levar na sua queda um país inteiro.

A vida tem suas ironias – faz uns dez anos, o desesperado diretor da empresa aérea Swissair telefonou para o antigo diretor do banco UBS pedindo a liberação do equivalente a 200 milhões de dólares para pagar o querosene dos aviões, caso contrário, por falta de dinheiro em caixa, seria obrigado a declarar a falência da empresa.

A Swissair era o orgulho dos suíços, seus aviões levavam o orgulho de um pequeno país rico para todo o mundo. Muita gente aplicava suas economias na empresa Swissair, cujas ações eram sinônimo de coisa segura e estável.

Mas será que um banco com os cofres abastecidos com dinheiro subtraído do mundo inteiro, seja pela evasão fiscal, seja pela transferência do dinheiro público de ditadores tem patriotismo ? O suíço, diretor do banco UBS, Marcel Ospel, que talvez tenha bandeirinha suíça no seu chalé como é de hábito, estava pouco ligando para o orgulho do seu povo e negou os 200 milhões.

A Swissair faliu e começou a série de desgraças, iniciada com a queda do Muro de Berlim. Sim, porque a fôrça da Suíça era ser neutra num mundo envolvido numa guerra fria, entre o capitalismo e o comunismo. Com a implosão da URSS, a Suíça perdeu sua utilidade e até os agentes secretos de Moscou e da CIA deixaram o país.

As maldições pronunciadas por seus próprios filhos Max Frisch, Durenmatt, Jean Ziegler iam se realizar uma a uma e a Suíça iria pagar seus pecados de soberba, de egoismo e de prepotência. E nessa descida ao inferno está sempre acompanhada daquele que foi seu primeiro e principal banco e que um dia desses deixará de existir – o UBS.

Veio, logo a seguir, a revelação de que os bancos suíços tinham se aproveitado do extermínio de judeus ricos, nos campos de concentração nazistas, para ficarem com suas contas bancárias, negando-se mesmo a entregá-las quando surgiam diante do Caixa alguns descendentes sobreviventes. Dizem mesmo que certos gerentes de bancos suíços tinham o desplante de pedir atestado de óbito de Auschwitz, para procurarem se havia alguma conta em seu nome.

Shame, shame. Até um guarda-noturno precisou se refugiar nos EUA para escapar à fúria do UBS, por ter salvado da destruição quilos de documentos da época das ascenção do nazismo na Alemanha, quando milhares de apartamentos e propriedades de judeus enviados às câmaras de gás ficaram sem dono. E Bill Clinton assinou um ato inédito, concedeu o green card ao primeiro suíço refugiado nos EUA, pois o guarda-noturno do UBS corria o risco de cinco anos de prisão, num processo aberto em Zurique pela Justiça suíça.

Enquanto os cofres fortes suíços se enchiam com dinheiro subtraído dos países pobres da África e da América Latina, nada ameaçou o império dos banqueiros suíços. Mas surgiu novamente o UBS, cujo excesso de impunidade levou ao erro fatal.

O banco UBS instalou nos Estados Unidos um esperto sistema (com as mesmas artimanhas que bancos estrangeiros fazem no Brasil) para extorquir os impostos do fisco americano, um leão muito mais bravo que o leão brasileiro. E assim o banco UBS, que quase quebrou com o escândalo dos subprimes hipotecários americanos, poderá quebrar quando vier a sentença e o quantum a pagar de multa por incitação à fraude fiscal nos EUA.

E, como no caso da Swissair, o escândalo da fraude fiscal do UBS despertou o mundo para os paraísos fiscais e para a Suíça. Hoje, acuada, cercada de um lado pela União Européia e do outro pelos EUA, a Suíça é obrigada a acabar pouco a pouco com seu lucrativo segredo bancário.

Mas é aí que pode entrar o Brasil. O segredo bancário suíço só vai continuar para os países latinoamericanos, africanos e asiáticos. E como existem nos cofres suíços cerca de 200 bilhões de dólares escondidos por brasileiros, o Brasil poderá muito bem, sozinho ou com o grupo dos 20, exigir ter o mesmo tratamento dos EUA e da União Européia em matéria de evasão fiscal e de taxação do capital brasileiro escondido nos bancos suíços.

A hora é agora – atacada pelos europeus e americanos, a Suíça não terá como negar ao Brasil o benefício de um estatuto próprio em termos fiscais. E, em nome do restabelecimento da verdade fiscal, o Brasil poderá exigir (como exigem agora os EUA os nomes de 52 mil clientes americanos do UBS), a identidade dos brasileiros com dinheiro escondido na terra de Guilherme Tell, e assim recuperar ou taxar os 200 bilhões de dólares armazenados na Caverna suíça de Ali Babá.
Rui Martins, Direto da Redação.

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