domingo, 12 de julho de 2009

NO SOFISTICADO MUNDO MIDIÁTICO

Publicada em:12/07/2009


Pedro Luiz S. Osório, do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC) criticou o artigo da semana retrasada neste DR denominado Fundação Ford pensa que engana. Osório, que não se sabe se fala pelo FNDC ou por ele mesmo, considera “anacrônicas” as reflexões feitas no artigo em questão. É um direito que o assiste, inclusive o de tomar as dores da fundação estadunidense. Disse Osório que o FNDC “é muito grato ao apoio da FF” e considera que ela “tem prestado auxílios inestimáveis ao país, em várias áreas”.

Osório só esqueceu de dizer o nome do país em que a FF presta auxílios inestimáveis: não é o Brasil, mas sim os Estados Unidos, pois a Fundação garante que tem por finalidade “levar democracia ao mundo”. Podem imaginar que democracia é essa? É a que prega o “livre trânsito informativo”, leia-se fazer cabeças que defendam a hegemonia de empresas, de preferência estadunidenses, em todas as áreas. É a que defende intervenções e invasões em várias partes do mundo tendo por justificativa a mentira, como ocorreu no Iraque. É a democracia que em abril de 2002 apoiou golpe contra o Presidente Hugo Chávez e assim sucessivamente.

Como se isso não bastasse, o estranho militante pela democratização da informação e comunicação já tinha dito que “podemos discordar da condução que FHC deu ao país, mas qualificá-lo como um conspirador contra o Brasil é ir longe demais”.

Negar isso é negar uma evidência que se manifestou em várias questões de responsabilidade de FHC, a principal delas, a doação a preço de banana de importantes estatais. O ex-Presidente entregou as telecomunicações, o subsolo, a Vale do Rio Doce, a Portobrás, a Rede Ferroviária, a Embratel (informações estratégicas sobre o Brasil estão sob o controle de uma empresa privada multinacional), quebrou o monopólio do petróleo, aprovou a lei de patentes. Enfim, Cardoso privatizou 88 estatais, sempre a preço de banana. O delinqüente FHC desnacionalizou 1.110 empresas privadas.

São fatos extremamente graves, que valeriam uma ação penal contra o ex-presidente se o Brasil não fosse um paraíso da impunidade de suas elites, que em vez disso prefere cultuar Cardoso e o modelo econômico que ele consolidou.

FHC pode ser taxado de delinqüente sim, pois quem fez o que ele fez com o Brasil, na verdade delinqüiu. É muito estranho também um representante de uma entidade beneficiada pela FF tomar as dores de um político que nos anos 70 se valeu da mesma FF que financiou uma entidade acadêmica em São Paulo em que FHC atuava, e isso numa época em que não havia dúvidas que a mesma era biombo da CIA, como comprovou, não a esquerda, mas o próprio Congresso estadunidense.

Agora, na primeira década do Terceiro Milênio, eis que a Fundação Ford continua firme e forte, financiando entidades que aparecem com discursos progressistas e que na área midiática dizem defender o livre fluxo informativo. A Fundação precisa disfarçar para não ficar tão evidente a que vem.

No fundo da questão está em jogo o futuro da área de comunicação no Brasil. Há um objetivo dissimulado da entidade financiadora (FF) de qualquer grupo que aparece pela frente para disfarçar o verdadeiro objetivo, o de queimar iniciativas que venham do Estado, como tem acontecido em vários países da América Latina.

O fortalecimento dos Estados nacionais não interessa aos grupos econômicos que bancam a Fundação Ford.

Tais fatos são da máxima importância para serem conhecidos pelo público, pois se nada for dito, mais uma vez muita gente até bem intencionada estará sendo ludibriada.

A importância desse conhecimento é maior ainda quando o Brasil se encontra na antevéspera da realização de eventos regionais, estaduais e municipais da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Até porque, para que o povo brasileiro consiga avanços mínimos numa reformulação midiática erá necessário que os movimentos sociais enfrentem poderosos grupos do setor como os grandes proprietários nacionais e internacionais. E para conseguir alguma conquista, por menor que seja, o movimento social precisa fazer alianças. E neste momento, a aliança prioritária deve ser com o Estado, que poderá dar um impulso na democratização das comunicações.

Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação.

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