segunda-feira, 20 de julho de 2009

Lula aposta nos pizzaiolos

Mais um análise perfeita do jornalista Maurício Dias.


20/07/2009

Mauricio Dias

A oposição perdeu o constrangimento. Nos últimos dias, abandonou o papel de guardiã da ética, movida pelos escandalosos problemas de administração do Senado, e iniciou um ataque violento para encurralar e afastar José Sarney da presidência do Senado, antes do recesso regulamentar do Parlamento, em julho. Objetivo, impor o que seria a maior derrota política do presidente Lula, em dois mandatos. Ainda pode vir a ser.

Esse é o fio condutor do problema. Plantar uma crise no Legislativo para tentar colher frutos no Executivo. Nítido o foco da questão. A punição de burocratas corruptos, o nepotismo, as sinecuras das diretorias fantasmas, polpudos acréscimos irregulares nos ganhos e licitações marcadas já não importam. Pelo contrário. Para o bem de todos é melhor deixar como está.

Para resolver as questões funcionais do Senado só com a discussão profunda e o entendimento escrupuloso. Enfim, tudo o que não existe agora. Na tentativa de conter o avanço da oposição, Sarney cedeu. Primeiramente, demitiu dois diretores da Casa e, posteriormente, anulou os atos secretos. Os senadores chiaram. Os atos anulavam nomeações e outras mutretas. Assim, ficou claro que o objetivo da oposição não era a moralização dos costumes no Senado.

Então, o próprio Sarney virou alvo. Um alvo fácil, devido a mandos e desmandos no Maranhão, onde, desde a ditadura militar, domina politicamente o estado com mão de ferro. Na sequência, os negócios familiares entraram na berlinda.

A Fundação Sarney foi vasculhada, suspeitas de contas ilícitas no exterior foram jogadas ao ar e, finalmente, um dos filhos de Sarney, Fernando, empresário, foi arrastado para o turbilhão. Repentinamente, foi acelerado o desfecho de um processo que se arrastava há três anos (leia em A Semana).


Presidente do Senado, ex-presidente da República, Sarney balança. Nas duas últimas sessões plenárias, o inefável peemedebista Pedro Simon pediu a renúncia de Sarney. O senador Cristovam Buarque, desgarrado do PDT, da base do governo, desgarrou. Falou também em renúncia, engrossando o coro da oposição. Leonel Brizola, se vivo fosse, já teria percebido e comentado: “O senador Cristovam está costeando o alambrado”.

“Tenho vergonha. Estou pensando em ir para casa”, anunciou Simon, quase às lágrimas. “Temo que, se isso demorar muito, não seja mais nem o caso de renúncia, mas de cassação de mandato”, bradou Cristovam Buarque.

A renúncia de Sarney desarticularia a base governista. Impõe pesada derrota política a Lula. Parece que isso, finalmente, foi percebido pelos senadores petistas Marina Silva, Eduardo Suplicy, Paulo Paim e Aloizio Mercadante. Eles que chegaram a se empolgar com o bloco- dos falsos amigos da ética, adotaram o silêncio.

Chegou a vez de Lula ceder às pressões. Certamente, com o sinal verde do Planalto, o senador José Sarney, na presidência da Casa, deu vida à CPI da Petrobras. Talvez o governo acreditasse que aliviaria o fogo adversário. Isso ocorreu um dia após a revista Fortune publicar a lista das 500 maiores empresas do mundo, considerando receita, lucro, capital e participação dos acionistas. Segundo a revista norte-americana, a base de acionistas da companhia se aproximou de 1 milhão de investidores.

Boa notícia para o País. A Petrobras subiu do 63º para o 34º lugar entre as 500 maiores empresas do mundo no ranking da Fortune, elaborado a partir dos dados de faturamento do exercício de 2008. A estatal mantém a liderança entre as empresas brasileiras com faturamento de 118,2 bilhões de dólares e lucro de 18,9 bilhões. Um lucro 44% maior do que em 2007.

A empresa brasileira, quase privatizada no governo FHC, ocupa o 6º lugar entre as mais lucrativas, superando gigantes como a Microsoft (7º lugar) e a General Electric (9º lugar).

A oposição, ao forçar a criação da CPI, tentou botar água no chope. Não foi com alegria que o governo brasileiro viu, no dia seguinte, a repercussão negativa no exterior. O site Fatos e Dados, da Petrobras, registrou as notícias sob a rubrica Destaques Internacionais. Não foi muito. Mas o suficiente para provocar uma pequena queda das suas ações na Bovespa.

Logo após a formação da CPI, o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, enviou carta aos funcionários da companhia, na qual falava que a Petrobras vivia “um momento delicado”. “Talvez a sua maior crise. Mas a Petrobras é maior que a crise. A CPI vai passar, a companhia vai sair dela muito mais fortalecida e continuar como orgulho do Brasil e dos brasileiros”, pontuou Gabrielli.

O presidente da Petrobras informou que, além de ter a obrigação legal de atender aos convites e convocações, enviou comunicado à CPI que ele e todos os diretores estavam prontos a prestar os esclarecimentos necessários. “Nossa posição é de muita tranquilidade em relação aos temas que estão apresentados no requerimento para a constituição da CPI”, anunciou a empresa.

Em seguida, desfez eventuais especulações internas. Listou os seis pontos do requerimento de formação da CPI e fez um resumo da posição da empresa. Tudo parece mais tranquilo para a estatal a partir da vitória do governo na queda de braço que manteve com a oposição para a formação dos integrantes daquela comissão parlamentar de inquérito. Isso diminui o poder dos adversários de usar politicamente a CPI, que deve passar à margem da exploração do pré-sal e da decisão do governo de criar uma nova empresa, a Petrosal, para a exploração do megacampo de Tupi.

Logicamente, não podia deixá-la sob controle dos adversários, que, antecipadamente, passaram a denunciar que tudo ia virar pizza. Assim também agia o PT, quando se formaram as poucas CPIs que nasceram após escapar ao controle do rolo compressor formado por tucanos e pefelistas (DEM), além do PMDB. Mas elas também ficaram sob controle dos governistas, que formavam, então, um sólido rolo compressor.

Lula, que acompanha de perto a crise no Senado, entrou direto no jogo. E foi para o ataque. Em defesa da Petrobras, despejou ironia sobre a oposição: “Teve gente que chegou a falar: precisamos nos desfazer do último paquiderme brasileiro, que é a Petrobras. Esse paquiderme agora é nosso e vamos cuidar dele com carinho”.

Na quarta-feira 14, perguntado pelos repórteres sobre as acusações da oposição de que a CPI iria virar pizza, o presidente provocou: “Depende. Todos eles são bons pizzaiolos”. Lula tirou Sarney das manchetes no dia seguinte. Um cálculo político corajoso. Talvez um tanto arriscado.
Fonte: CartaCapital.

3 comentários:

Anônimo disse...

Claro! O que seria do desgoverno do "Cel." Lulla da Silva se não fossem os "pizzaiolos" que ele, a bem dizer, alicia e comanda?

Claudio Rodrigues disse...

Excelente análise. Parabéns.

Gilvan disse...

Claudio, só o anônimo que não enxerga nada.