segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cada vez mais enrolado::PF rastreia R$ 700 mi de Dantas



Texto final do inquérito indica que organização criminosa fazia lavagem de dinheiro obtido ilicitamente por meio de investimento em agropecuária

Fausto Macedo, AE


O relatório final do Inquérito 235/08 - Operação Satiagraha - revela que a Polícia Federal rastreia, agora, uma fortuna de R$ 700 milhões que o Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, investiu na agropecuária. Gráfico apreendido na sede do grupo indica que Dantas foi diretamente responsável pelo aporte de mais de 20% do valor.

O relatório, ilustrado com fotos e diagramas, dedica 26 de suas 325 páginas a negócios de Dantas pulverizados em um complexo de 43 fazendas administradas pela Agropecuária Santa Bárbara Xinguara. Planilha que engrossa os autos da Satiagraha informa que, em fevereiro de 2008, havia 453.078 animais nos pastos do Opportunity, entre touros, vacas, novilhas, bezerras, bois e rufiões.

O dossiê da PF cita outro documento recolhido no Oportunity, intitulado "resumo geral mapa de gado por categoria de animal". Segundo o relatório, os dados lançados nesse resumo "comprovam que uma das formas utilizadas pela organização criminosa para realizar lavagem de recursos oriundos de atividades ilícitas é a realização de investimentos em negócios da atividade agropecuária".

A investigação sobre suposta ocultação de valores por meio da compra e venda de gado será conduzida pela Superintendência da PF no Pará, Estado onde se concentra a maior parte das terras de Dantas.

"Os fatos apurados apontam para a existência de uma organização criminosa", assinala o relatório subscrito pelo delegado Ricardo Andrade Saadi, que indiciou Dantas. "A organização praticou diversos crimes, tais como gestão fraudulenta de instituição financeira, empréstimo vedado, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e formação de quadrilha. A organização utilizou diversas empresas no Brasil e no exterior, principalmente do tipo offshore, constituídas em paraísos fiscais, muitas delas empresas de fachada. Tais empresas foram utilizadas para a realização de diversas operações, celebração de contratos de mútuo e emissão de notas fiscais referentes a serviços não realizados, os quais tinham como objetivo ocultar a origem criminosa dos recursos."

PODERIO

O relatório sustenta que, "após ocultados e misturados com recursos de origem legal, os recursos oriundos das atividades criminosas foram utilizados pela organização para realizar diversos investimentos, dentre os quais aqueles no agronegócio, na mineração e no ramo imobiliário".

À página 214, o relatório destaca: "Além de todo o complexo sistema que criou com a finalidade específica de lavar recursos ilícitos, a organização fez uso de uma série de outras ferramentas para manter-se fora do alcance da lei, seja para obter vantagens e favorecimentos indevidos, seja para manter-se impune. Por trás dessa atuação, encontra-se sempre o poderio econômico."

Sete indícios de lavagem são apontados, entre os quais pagamento das despesas das fazendas feito de duas formas, uma parte "por dentro", contabilizada, e outra sem a emissão de nota fiscal; a compra de diversos bens com indicativo de que foram colocados em nome de terceiros; identificação de pessoas que negociavam direta ou indiretamente com as fazendas do grupo e que foram objeto de comunicação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras de operações suspeitas."

O relatório diz que "o líder da organização criminosa é Daniel Dantas, cabe a ele definir estratégias macros, bem como dar a palavra final nos assuntos importantes". Dantas foi indiciado por lavagem, evasão, gestão fraudulenta de instituição financeira, sonegação e quadrilha.

Dividido em 11 capítulos, o relatório destaca que o grupo é formado por empresas financeiras e não financeiras, no Brasil e no exterior. Diz à página 35: "No início dos anos 90, Dantas era um banqueiro promissor e possuía contatos com políticos. Vislumbrou a possibilidade de realizar bons negócios com as privatizações do governo. Seus principais parceiros foram o Citibank e fundos de pensão. Havia outros empresários brasileiros que realizavam investimentos com recursos não declarados aos órgãos púbicos."

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