segunda-feira, 25 de maio de 2009

SOU MAIS TARSO GENRO

Novos cenários na política gaúcha Paulo Cezar da Rosa, de Porto Alegre
25/05/2009

Paulo Cezar da Rosa, de Porto Alegre, CartaCapital

Até 30 dias atrás, o Rio Grande do Sul era disputado por três candidatos. Neste final de semana um quarto nome entrou na disputa. O ex-governador Germano Rigotto foi recebido no Congresso Estadual do PMDB aos gritos de “1,2,3, Rigotto outra vez” e declarou-se pronto para concorrer ao Palácio Piratini novamente.

Em fins de abril, Yeda Crusius, pelo PSDB, sinalizava com uma campanha à reeleição. Ainda que tivesse dificuldades, a idéia de que contava com o peso da máquina tornava a atual governadora uma candidata competitiva.

Na oposição, Tarso Genro aparecia em primeiro lugar nas pesquisas. Vencedor em praticamente todos os cenários, o ministro da Justiça contudo parecia não contar ou subestimava as enormes dificuldades dentro de seu próprio partido nos terrenos local e nacional.

Pelo centro, com uma certa inflexão à direita, o atualmente peemedebista José Fogaça, aparecia em segundo lugar, mas como favorito em um provável segundo turno num enfrentamento com Tarso Genro. Prefeito de Porto Alegre, Fogaça já derrotou o PT duas vezes e poderia derrotar de novo diante do ministro da Justiça.

Agora, tudo isso mudou

Hoje, Fogaça já não é mais bola da vez. O prefeito de Porto Alegre foi senador pelo PMDB, liderou o governo Fernando Henrique no senado, elegeu-se prefeito pelo PPS e agora retornou ao PMDB. Parece estar vinculada a isso a percepção de que Fogaça é um pupilo esperto dos tucanos paulistas e isso não é bom para o Rio Grande. O pêndulo dentro do PMDB estaria se voltando para o Germano Rigotto. O ex-governador, que antes vinha dizendo-se candidato ao senado, passou a disputar abertamente o posto de candidato no PMDB. Diante de um Fogaça pró-Serra, um Rigotto pró-Dilma transitaria melhor no paladar dos eleitores gaúchos e acompanharia a maioria do partido no estado, hoje alianhada com o governo Lula.

Tarso Genro, além da contestação de parcela do PT regional que entende ser melhor concorrer com um nome que expresse uma renovação (o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, e o deputado estadual, Adão Villaverde, foram lançados candidatos a candidato numa disputa interna prevista para julho), passou a ser contestado também pela direção nacional do PT. Ricardo Berzoini, presidente nacional da sigla, condenou o PT gaúcho por estar colocando a carreta na frente dos bois: conforme esta visão, a candidatura a governador do Rio Grande do Sul deveria estar subordinada à política de alianças nacional e, inclusive, seria desejável ter um único candidato e um único palanque presidencial em 2010 no Rio Grande do Sul. A conseqüência disso seria concorrer com uma chapa PT-PMDB para o governo do estado no Rio Grande do Sul, não sendo descartada inclusive a hipótese do PT compor com o PMDB na cabeça. Para reagir a essa operação, os petistas lançaram um movimento “Pra Unir o PT e Governar o Rio Grande” de apoio à candidatura de Genro.

Já Yeda Crusius, que há trinta dias sonhava com uma reeleição consagradora que viesse a suplantar as inúmeras acusações de caixa 2 em sua campanha e corrupção em seu governo, hoje, aparentemente de forma ainda mais grave que Tarso Genro, não conta mais com o apoio dos dirigentes nacionais de seu partido. Conforme todos os sinais oriundos do terreno nacional, José Serra e os dirigentes do PSDB estariam dispostos e jogar Yeda ao mar, para que ela não atrapalhe a eleição presidencial. Isso acabou ficando tão evidente que a direção nacional do PSDB se viu obrigada a lançar uma nota oficial de apoio à Yeda.

Numa sucessão de episódios político-jornalísticos, Yeda Crusius havia tido duas matérias na Revista Veja revelando “novas denúncias de corrupção” em seu governo e iniciou a semana passada com mais de dois minutos no Jornal Nacional numa matéria que soou quase como um convite para enterro de seu governo. Ameaçada por uma possível CPI na Assembleia (faltam 2 assinaturas para atingir o mínimo de 19), por um vice que opera nos bastidores alimentando a oposição com todo tipo de artilharia, Yeda fechou a semana caindo, literalmente, de um palanque de inauguração de uma estrada no interior gaúcho.


PMDB-PT: uma alternativa quase impossível em construção

Neste quadro instável, Germano Rigotto, que há trinta dias aparecia como simples candidato ao senado, hoje parece contar com apoio inclusive do presidente Lula, que estaria por detrás de uma chapa Rigotto governador, Maria do Rosário, deputada do PT, vice. Tarso Genro, de um lado, e Yeda Crusius, de outro, seriam extremos condenados pelas direções nacionais dos dois principais partidos do país, PT e PSDB. E José Fogaça, por sua trajetória partidária instável, também estaria descartado. A bola da vez seria Rigotto, desde que venha a ter o apoio do PT regional.

Isso, entretanto, hoje, é praticamente impossível. O PT gaúcho construiu-se como um partido hegemonista. Governou Porto Alegre por 16 anos e o estado durante 4, tendo crescido de eleição em eleição. Mesmo enfrentando derrotas em Porto Alegre e em centros políticos regionais importantes no interior do estado, o partido soube compensar as perdas conquistando novos espaços. Ser vice do PMDB hoje é quase inimaginável para o PT gaúcho e para o próprio PMDB. Rigotto, numa declaração esta semana disse acreditar haver menos de 1% de chances disso vir a acontecer, mas não descartou a proposta.

Não é desprezível, todavia, a hipótese de uma aliança entre PMDB e PT no Rio Grande do Sul. Os dois partidos reúnem os melhores quadros da política gaúcha. Se a agenda da crise dominar a sucessão de 2010 no Brasil, o mais provável é que Dilma se viabilize no país e, provavelmente, Rigotto acabe se vianilizando no Rio Grande do Sul.

Na virada do milênio, ninguém apostava dois vinténs na vitória de Lula em 2002. Em 2006, ninguém estava procurando por Obama na internet. Lula foi eleito em 2002. Obama foi eleito em 2008. Como dizia alguém, o futebol é uma caixinha de surpresas. E a política é cheia de novidades.

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