sábado, 31 de janeiro de 2009

O PESO DO FATOR LULA


Mauricio Dias

A pesquisa CNT/Sensus, divulgada em meados de dezembro de 2008, com a informação de que 47,8% dos eleitores nunca ouviram falar da ministra Dilma Rousseff, fechou o ano com muitas especulações sobre as possibilidades eleitorais dela, em 2010, como candidata à Presidência da República.

A visão desse resultado, sem conhecimento maior dos dados da sondagem, favoreceu uma atitude pessimista quanto ao futuro de uma candidatura ainda em formação que obtém uma magra parcela de promessas de voto. Ela alcança o máximo de 8% das intenções de voto.

O pessimismo não buscou, no entanto, apoio nas informações mais consistentes que podem ser obtidas a partir do cruzamento do resultado com os dados sobre Região, Escolaridade e Renda Familiar que iluminam precisamente os setores da sociedade em que o nome da ministra é desconhecido.

Se não há flores no caminho de Dilma, as pedras, no entanto, são removíveis. Os cruzamentos da pesquisa (ver tabelas) expostos aqui pela primeira vez mostram isso:

– É no Norte, Centro-Oeste e Nordeste que o nome da candidata é mais ignorado. O porcentual de pessoas que não conhecem ou não ouviram falar dela ultrapassa 56%.

– Entre os eleitores de menor escolaridade, primário e ginasial, o nome de Dilma é desconhecido por 58,4% e 50,2%, respectivamente.

– Entre a população de baixa renda, o nome da ministra é desconhecido por 59,8% entre os que ganham até um salário mínimo, e por 51,7% entre os que ganham entre um e cinco salários mínimos.

Esses eleitores representam 80% do total de 130 milhões.

Um dado curioso: mais de 53% das mulheres não a conhecem ou não ouviram falar dela. O porcentual cai para 41% entre os homens. No mundo masculino, mais de 43% a consideram capaz.

E nessa faixa da população eleitoral – os mais pobres, menos escolarizados e residentes no Norte/Nordeste – que o presidente Lula tem a sua mais firme base de apoio, como mostra a sequência histórica de todas as pesquisas de opinião.

Segundo dados da Sensus, entre os que ganham até um salário mínimo, 81,2% aprovam o governo Lula. Na faixa entre um e cinco salários mínimos, a aprovação é de 79,6%. Quando o fator é a escolaridade, a aprovação de Lula é assim: primário 84,3% e ginasial 81,1%. Considerado o apoio por região, o Nordeste aprova maciçamente com 89,2%, enquanto no Norte/Centro-Oeste, a aprovação é de 79,6%.

A sondagem Sensus indica também que 22% dos eleitores se mostram dispostos a votar em um candidato apoiado por Lula, assim distribuídos: 6,2% dizem que é o único candidato em que votariam e 15,9% afirmam que poderiam votar.

São apenas indicações. A receita para transferência de votos não é conhecida. No entanto, há alguns ingredientes conhecidos como uma administração bem avaliada e a popularidade. O presidente Lula preenche esses dois requisitos até agora.

A elevada falta de conhecimento da ministra Dilma Rousseff, se é ruim por um lado, é bom por outro. O fato de não ser conhecida deixa o espaço aberto para que ela possa ocupá-lo, considerando que o pleito ocorrerá daqui a quase dois anos.

Diante das evidências, é possível convocar o velho Conselheiro Acácio, imortal de Eça de Queirós, para uma afirmação percuciente: qualquer um dos postulantes pode ganhar a eleição presidencial de 2010 .


CartaCapital.


Comentário.


Para quem não sabe, Maurício Dias é um dos jornalistas que mais estudam sobre eleição no Brasil, inclusive tem livro publicado sobre o tema.Portanto, Serra que se cuide.

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