terça-feira, 25 de novembro de 2008

A MÍDIA E AS ELEIÇÕES NA VENEZUELA

25 DE NOVEMBRO DE 2008

Altamiro Borges:


Na entrevista coletiva em que reconheceu os resultados das eleições e enalteceu a vitalidade da democracia na Venezuela, o presidente Hugo Chávez aproveitou para criticar a cobertura da rede estadunidense CNN. Lembrou que de apoiadora do golpe de abril de 2002, a emissora ianque se transformou no principal cabo eleitoral da oposição direitista no país, manipulando informações para desqualificar o governo venezuelano. A crítica de Chávez serve perfeitamente para analisar a cobertura da mídia brasileira das eleições deste domingo.



Por Altamiro Borges



Antes do pleito, Folha, Estadão e TV Globo, entre outros veículos, tentaram vender a imagem de que o processo eleitoral seria viciado e de que o governo apelaria à truculência contra a oposição. O correspondente da Folha em Caracas, Fabiano Maisonnave, ex-petista que virou um rancoroso antichavista, pinçou trechos dos discursos de Chávez, descontextualizando-os, para mostrar um governo autoritário, violento, ditatorial. “Chávez usa ameaças para tentar conquistar estado mais rico”, foi uma das manchetes do cínico jornal, que apoiou o golpe militar e as torturas no Brasil.


Sucursal rastaqüera da CNN


Concluída a apuração, a mesma mídia venal passou a festejar a “vitória da oposição”. Os âncoras do Jornal Nacional da TV Globo saudaram, alegremente, “a derrota do presidente Chávez”. O correspondente antichavista da Folha, guindado agora ao posto de colunista e puxa-saco oficial da famíglia Frias, vaticinou o declínio da revolução bolivariana. “Chávez sai desta eleição mais parecido com o caudilhismo rural do século 19”, escreveu o postulante a intelectual da direita.


A manipulação da mídia nativa, sempre tão servil às opiniões do “império do mal”, uma sucursal rastaqüera da CNN, é grosseira. Ela não deu manchetes para os resultados objetivos do pleito, realçando apenas os êxitos da direita. Um jornalismo mais imparcial noticiaria que os chavistas venceram em 17 dos 22 estados; em 233 prefeituras, contra 57 dos oposicionistas; que o PSUV, o partido recém-fundado do presidente Chávez, conquistou 5,6 milhões de votos – no referendo de dezembro passado, o governo teve 4,4 milhões de votos. A mídia seria obrigada a reconhecer que o Chávez continua com invejável força e prestígio, após 10 anos de governo e 14 eleições.

Quadro político mais complexo

Uma análise mais nuançada, menos envenenada pela mídia, aponta certo equilíbrio no resultado eleitoral deste domingo. Indica que a direita oligárquica, que sabotou as eleições de 2004 e que agora decidiu se dobrar às regras democráticas, ainda tem força no país. Ela está fora do governo central, mas mantém seu poder econômico e midiático; conta com o ostensivo apoio dos EUA; e aproveita-se também das limitações da própria “revolução bolivariana”, inclusive das suas falhas administrativas. A oposição passa a governar cinco estados, entre eles o de Zulia, maior produtor de petróleo do país, Miranda e Carabobo. Também dirigirá a estratégica prefeitura de Caracas.

Como raciocina Gilberto Maringoni, autor do livro “A Venezuela que se inventa”, o resultado do pleito torna mais complexa a disputa política no país vizinho. “O governo segue com o apoio da maioria da população, mas a situação do país apresenta nuances... Esta nova oposição, assentada nas mesmas bases sociais da anterior – meios de comunicação, poder econômico e governo dos EUA –, ao que tudo indica, muda qualitativamente o panorama político do país. Possivelmente, o discurso chavista terá de se reciclar”. A direita não venceu, como difunde a mídia, mas o quadro político do país sofreu alterações, o que exigirá muito firmeza de princípios e habilidade tática.

Na entrevista coletiva, o presidente Hugo Chávez parece já ter assimilado o resultado da eleição. Após criticar os setores oposicionistas mais raivosos, ele convocou os vencedores a defenderem a democracia e a Constituição. “Ninguém mais pode dizer que não há democracia na Venezuela. O povo se manifestou de maneira livre e contundente. O que os oposicionistas que venceram em alguns estados e municípios devem fazer agora é reconhecer o triunfo da revolução bolivariana como nós reconhecemos as suas vitórias... Oxalá que se dediquem a governar com transparência, dignidade e respeito à Constituição. Oxalá que não voltem aos velhos caminhos do golpismo”.
Portal Vermelho.

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