sexta-feira, 31 de outubro de 2008

PUNIÇÃO GERAL E IRRESTRITA

Sexta, 31 de outubro de 2008, 14h15 Atualizada às 14h19
Governo não pune mídia irresponsável, diz deputado
Diego Salmen


A Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados realizará, no dia 11 de novembro, uma audiência pública para discutir as conseqüências da cobertura feita pela mídia durante o seqüestro da menina Eloá.

Ela foi morta depois de ser mantida refém durante cinco dias pelo ex-namorado Lindemberg Alves, em um apartamento na cidade de Santo André, em São Paulo.


À época, três emissoras de televisão - Globo, Record e Rede TV! - veicularam entrevistas feitas com o seqüestrador por meio do número de celular utilizado nas negociações com a polícia.

Autor do requerimento de realização da audiência, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) qualifica a atuação da imprensa nesse período como "irresponsável". Ele considera ter havido um "vale tudo" na busca pela audiência.

- Os meios de comunicação inflamaram a psicopatia do seqüestrador, que virou uma celebridade nacional.

Em entrevista a Terra Magazine, o parlamentar destaca a importância do debate sobre a responsabilidade social e ética dos meios de comunicação, e diz que as emissoras podem ser punidas, caso haja pressão popular para tanto.

- Que as emissoras não venham com o álibi, a justificativa da conduta irresponsável em nome da liberdade de imprensa. Nós lutamos contra a ditadura pela liberdade de imprensa, enquanto vários órgãos de comunicação defendiam o regime militar.

Confira a entrevista com o deputado Ivan Valente:

Terra Magazine - Por que o senhor decidiu apresentar esse requerimento?

Ivan Valente -Acompanhando esse evento, foi possível constatar que os meios de comunicação tiveram uma responsabilidade importante no desenlace desastroso do seqüestro, pelo tipo de cobertura que fizeram, num sistema de vale tudo pela audiência. Inclusive de contato direto com o seqüestrador... Os meios de comunicação inflamaram a psicopatia do seqüestrador, que virou uma celebridade nacional. Entrevistas com Lindemberg foram feitas por meio do celular utilizado nas conversas com a polícia.

E isso acabou dificultando o trabalho de negociação da polícia...

Tem um depoimento do promotor que esteve lá nos momentos cruciais que diz que o capitão Gianinni (responsável pelas negociações) não conseguia falar com o seqüestrador porque o telefone estava ocupado com as entrevistas com a imprensa. Por outro lado, a cobertura 24 horas por dia, procurando sempre os melhores ângulos, ocupando vários apartamentos do local e inclusive mostrando toda a movimentação policial, isso tudo certamente prejudicou e muito qualquer ação policial preventiva. Tanto é assim que ele soltou uma das reféns em troca da manutenção da água e da eletricidade para que ele pudesse acompanhar pelos meios de comunicação. Foi uma cobertura irresponsável.

As emissoras trabalham sob o regime de concessão pública. De que maneira seria possível exercer um controle mais efetivo sobre isso?

Essas concessões são renováveis, e essa renovação passa pelo Congresso. Entramos com o requerimento também na Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara, para que esse debate seja feito também sob esse ângulo, ou seja, o papel ético e de utilidade pública dos meios de comunicação. E não a busca da audiência a todo custo, desrespeitando o interesse público e gerando uma cobertura nociva à formação da cidadania brasileira. Nesse caso colocando inclusive em risco a vida de outras pessoas.

Nós sabemos que se trata ainda de uma audiência pública, mas a questão é: existe alguma chance de punição para essas emissoras?

(Pode haver) Pela lógica da renovação. O ministério das Comunicações, por pressão social e popular, pode punir; inclusive a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) pode punir. Só que não punem, são coniventes com isso. Ao dar essa visibilidade a esse debate na Câmara, nós queremos discutir sim a concessão, sua renovação e a responsabilidade social e ética dos meios de comunicação, que são concessionários. E por outro, o papel do governo na regulação, no controle e na fiscalização do conteúdo transmitido. Eu quero deixar claro que não vejo nisso nenhum tipo de censura à imprensa. Que as emissoras não venham com o álibi, a justificativa da conduta irresponsável em nome da liberdade de imprensa. Nós somos defensores da liberdade de imprensa e de manifestação. Lutamos contra a ditadura pela liberdade de imprensa, enquanto vários órgãos de comunicação defendiam o regime militar. É o contrário; em nome da liberdade de imprensa não se pode produzir conteúdos irresponsáveis à sociedade.

Há alguns anos houve também a entrevista com um falso líder do PCC no programa do apresentador Gugu Liberato....

Naquela época eu inclusive convoquei o apresentador Gugu Liberato à Comissão de Direitos Humanos. Mas ele fez tanta movimentação junto aos parlamentares no Congresso que ele conseguiu inviabilizar a presença dele lá. Vários parlamentares têm receio de pressão (por parte) dos meios de comunicação.

Terra Magazine .
Comentário.
Concordo com Ivan Valente. Vou mais além, a punição tem de ser geral e irrestrita. Não só as TVs devem ser punidas, como também jornais, revistas, blogs da direitalha e seus blogueiros de aluguel.O que não pode é ficar como está, onde prevalece a ganância dos meios de comunicação, todos querendo lucar com a desgraça alheia.

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